Poucos prazeres são tão plenos,
reconfortantes e redentores quanto o de voltar para casa. Especialmente quando
temos uma casa e quando nessa casa vivenciamos a inegociável sensação de paz,
que a consolida em lar. O abraço dos entes queridos transmite e simboliza a
grandeza dessa sensação. O cachorro a lhe sorrir latindo em frente ao portão ou
o gatinho se enrodilhando a seus pés, também.
Conhece bem essa sensação quem
saiu da casa paterna para estudar fora e retorna em algum final de semana, ou
mesmo anos depois. Ou quem sai por alguns dias a trabalho e retorna. Sente-se a
mesma alegria de voltar mesmo que se consiga realizar o sonho de uma longa
viagem perfeita de muitas semanas do outro lado do planeta. Devem também sentir
isso os astronautas quando os módulos que os trazem de volta à Terra reentram
na atmosfera. Sentimos também uma fração significativa dessa emoção
reconfortante todos os dias ao chegarmos em casa de volta do trabalho, tirando
os sapatos e calçando as chinelas. Como é bom voltar para casa!
A obra que é um dos pilares da
literatura ocidental tem como pano de fundo justamente a saga do protagonista
em sua busca homérica de retornar para casa, o que só consegue depois de longos
dez anos de tentativas permeadas de incríveis aventuras. Trata-se da “Odisseia”,
de Homero, clássico grego que narra as desventuras do guerreiro Ulisses que,
finda a Guerra de Troia, da qual participou (contada na “Ilíada”), empenha-se
em retornar à sua cidade Ítaca, onde a esposa Penélope o aguarda fiel e
pacientemente. Quando enfim chega em casa, não é exatamente uma sensação
agradável que o invade ao perceber o que estava rolando, mas, no final, seus
esforços acabam recompensados e vou parar por aqui para não estragar a leitura
de ninguém. Poderíamos também lembrar a alegria que gerou a volta do filho
pródigo para a casa paterna, conforme relatado no Novo Testamento, no Evangelho
de Lucas. Foi uma festança de proporções bíblicas.
Essa mesma sensação estou
sentindo eu desde ontem, com o retorno de minha coluna de crônicas para o
abrigo das páginas do caderno Sete Dias, o guardião das notícias de cultura e
variedades do jornal Pioneiro. Como é boa essa sensação de voltar para casa e
de se sentir à vontade e bem colocado onde se está. O sentimento de
pertencimento é uma das mais benfazejas panaceias que existem para renovar o
espírito. Bem-vindos comigo, leitores.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de fevereiro de 2016)
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