A Senhora X e eu fomos colocados
em contato por intermédio de uma amiga em comum sabedora de nosso interesse
pelo desenvolvimento de determinadas pesquisas históricas. Por e-mail, trocamos
informações preliminares e marcamos de nos encontrar certa tarde na casa dela,
a fim de nos conhecermos e darmos início a uma parceria que viria a ser útil a
ambos. Até aí, tudo bem. Ela me recebeu efusiva, feliz por me ver em pessoa,
leitora que se disse ser de meus textos aqui, acolá e alhures. Problema foi
quando apareceu o marido.
Também simpático, ele chegou na
sala, apertou minha mão, olhou-me fixo nos olhos por alguns instantes, observou
minhas feições e sentenciou: “Você não se parece com a foto do jornal”.
Desconcertado, pensei rápido e apelei para meu tradicional humor duvidoso:
“Sim, o senhor tem razão. Sou mais bonito ao vivo”. Ele deu uma risadinha e
saiu da sala, deixando-me com a impressão de que discordava de meu argumento.
Porém, o que o marido da Senhora
X conseguiu foi infestar minha orelha com pulgas. Por que diabos eu haveria de
não me parecer com a fotinho que encabeça ali a coluna? Estaria ela desfocada?
Embaçada? Aguada? Ou pior: e se nada houver de errado com a foto, mas sim com
minha imagem real ao vivo? E se o aguado, o desfocado e o embaçado for eu
mesmo, em carne e osso e óculos?
Procuro me confortar recordando
que já houve vários casos em que desconhecidos me reconheceram na rua
justamente devido à foto no jornal. Tudo bem que certa vez um deles me
cumprimentou entusiasticamente por uma crônica maravilhosa que na verdade fora
escrita pela Maria Helena Balen. Recebi o elogio constrangido e me ralando de
inveja da Maria Helena, naturalmente. Mas não quis esvaziar o entusiasmo do
leitor em relação ao texto que, de fato, era ótimo, como não poderia deixar de
ser. Fico até hoje me segurando para não telefonar à Maria Helena e perguntar
se já ocorreu de ela receber cumprimentos equivocados (e entusiasmados) por escritos
brilhantes de minha autoria atribuídos a ela, mas temo descobrir que “não,
nunca, querido, mas não se preocupe, você escreve direitinho”.
Isso tudo me faz desconfiar de
que talvez eu possa estar mesmo meio mal na foto. Preciso me parecer visualmente
comigo mesmo, e urgente. Ficarei assustado se amanhã ou depois alguém passar
pela rua e me cumprimentar dizendo: “Olá Maria Helena, belo texto hoje”!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de dezembro de 2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário