Nossa, compadre, te falo em ver
um cara desolado! É nas crises pessoais, naqueles momentos em que você está
atolado no fundo do poço, que se percebe quem é amigo de verdade, não é assim
que as coisas são? Pois é, é isso mesmo.
Todos nós já estivemos,
alternadamente, em alguma das pontas dessa equação importante dos
relacionamentos humanos, a amizade. Tanto já estivemos no fundo do poço, precisando
de uma mão amiga, quanto já estivemos na condição de sermos o dono da mão que
deverá ser estendida ao amigo encalacrado no fundo do poço. Pois então,
compadre, estou numa saia justa com meu amigo Argentino, porque o cara, tchê,
está no fundo do fundo do poço e não sei o que fazer para ajudá-lo a sair de
lá. Vou te contar o que se sucede, aguenta as pontas e sorve mais um mate
enquanto escuta.
Argentino, você sabe, apesar de
ser meio atabalhoado, é um homem generoso, romântico e de alma poética. Pois sendo
assim, aconteceu, faz tempo já, de se apaixonar profunda e platonicamente por
ninguém menos do que a jornalista e apresentadora de telejornais Patrícia
Poeta. Linda, charmosa, inteligente e dona de sobrenome poético, a jornalista
gaúcha arrebatou, sem querer e nem imaginar, o coração de meu amigo. Ele, nas
solidões noturnas de seu quartinho alugado mal iluminado, dedica-se há anos a
produzir longos poemas de amor a serem um dia endereçados a ela lá no centro do
país, na esperança (vã, claro) de arrebatar a alma, as atenções e a paixão da
encantadora jornalista.
Só que agora chega a notícia de
que Patrícia Poeta acaba de adquirir uma mansão de frente para o mar, no Rio de
Janeiro, no valor de 23 milhões de reais. Com isso, Argentino finalmente caiu
na real e percebeu que não há no mundo verso poético bem cadenciado capaz de
rivalizar com a poesia existente na conta bancária de um marido rico e
poderoso. Argentino achava que ela era mais Poeta do que Patrícia. É, compadre,
poeta mesmo, nessa equação toda, é meu amigo Argentino. Quem mandou se encantar
pela Patricinha? Como consolar agora o cara? Acho que vou presenteá-lo com um
livro de sonetos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de setembro de 2014)
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