“Temos de ganhar mais dinheiro”.
Mesmo vivendo na minha Ijuí natal e tendo apenas 14 anos de idade, lá nos idos
do início da década de 1980, eu e meu primo compartilhávamos na essência pelo
menos um dos principais atributos dos habitantes da Serra Gaúcha, região que vim
a habitar só muito tempo depois. Decidimos nos transformar em jovens
empreendedores porque percebemos que os valores que cada um recebia de mesada
dos respectivos pais não atendiam mais às nossas necessidades. Ele, porque queria
mais grana para os lanches no recreio e eu porque desejava adquirir mais gibis
de super-heróis.
Aquela situação não podia
continuar. A Editora Abril estava lançando gibis próprios do Homem-Aranha e do
Capitão América e eu simplesmente pre-ci-sa-va daquilo. Depois de conversarmos
com um coleguinha que era filho de empresário rico, descobrimos que o segredo
de sua fortuna residia na criação de coelhos que ele mantinha em uma de suas
propriedades. Naqueles tempos politicamente incorretos, a pele de coelho andava
valorizada no mercado da moda e aquilo nos pareceu um investimento promissor,
afinal, coelhos se reproduzem como coelhos e bastaria investirmos em dois
casais de matrizes para em breve vermos nossa criação duplicar, triplicar, quadruplicar,
bem como nossos lucros e, com eles, os meus gibis do Homem-Aranha e os pastéis
do meu primo.
Mãos à obra, bastava comprar os
coelhos! Passamos uma tarde capinando um pedaço de terra nos fundos da casa
onde minha família morava, a fim de construirmos ali o nosso futuro
coelhódromo. Mas nosso empreendimento jamais avançou de um sonho tirado da
cartola mágica da imaginação e de cinco metros quadrados de tiririca capinada
nos fundos da nossa casa na Rua dos Viajantes. Isso porque jamais sobrou grana
da mesada para adquirirmos os primeiros casais de coelhos. Afinal, havia gibis
do Homem-Aranha todo o mês a serem comprados na Livraria Progresso e pastéis de
carne a serem consumidos no barzinho do colégio na hora do recreio. Nunca
sobrava para investir.
Foi assim que aprendi que
coelhos, por si só, não fazem mágica. E que empreendedorismo não salta da
cartola.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de setembro de 2014)
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