Os historiadores sabem, mas a
gente até que estuda (só para a prova, claro) essas coisas na escola e, depois,
displicentemente apaga da memória, o que é um crime não só contra a história em
si, mas especialmente contra nós mesmos, uma vez que somos frutos diretos das
ações de todos aqueles que nos antecederam para criar esse aqui e agora em que
vivemos. A Revolução Farroupilha, que celebramos neste 20 de setembro, é um
acontecimento histórico dos mais significativos já vivenciados pelo povo
gaúcho, repleto de episódios interessantes que ou desconhecemos por completo ou
simplesmente relegamos para o baú de nossas memórias. Vale a pena relembrar
alguns deles.
É interessante constatar que nem
tudo foi harmonia e entendimento entre os líderes revolucionários que
capitanearam a revolução gaúcha naqueles idos de 1835. Os primos Bento
Gonçalves e Onofre Pires, por exemplo, eram parceiros revolucionários de
primeira hora, porém, com o passar dos anos, acabaram se desentendendo. E feio.
Mas tão feio que concordaram em aparar suas
arestas por meio de um duelo, que teve lugar em Santana do Livramento, às
margens do Rio Sarandi, no dia 27 de fevereiro de 1844. Quem levou a melhor foi
Bento Gonçalves, que atingiu Onofre Pires com um tiro no braço. O duelo foi
interrompido e o próprio Bento ajudou a socorrer o primo vencido. Onofre Pires
morreu por causa da gangrena, quatro dias depois e um ano antes do fim da
Revolução Farroupilha. Bento Gonçalves virou até nome de cidade aqui na Serra,
mas Onofre Pires, hoje em dia, fica meio à sombra dos personagens históricos
mais lembrados da Revolução.
Interessante é constatar alguns
laços familiares de personagens como ele. Onofre tinha uma irmã, chamada
Antônia Clara Barbosa de Menezes de Campos. Ela era casada com o médico
porto-alegrense Manoel José de Campos, o Barão de Guaíba. Este, por sua vez,
era padrinho de Paulo de Campos Cartier, pai da poetisa Vivita Cartier (patrona
da cadeira 11 da Academia Caxiense de Letras). Ou seja, o padrinho do pai de
Vivita era cunhado de Onofre Pires. Dado que nos permite deduzir que Vivita
Cartier também tinha alma farrapa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de setembro de 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário