Não vou revelar onde o fato
aconteceu, nem quando e tampouco com quem (e se não parar por aqui com as
restrições, corro o risco é de ficar sem contar porcaria nenhuma e acabar me
vendo sem crônica, o que seria uma baita bagualada), mas me restringirei à sua
essência. Pos me botaram a experimentar sorvete de erva-mate, o que serviu, se
não para me refrescar a goela nesses dias mais quentes que chapa de fogão a
lenha, ao menos, para fazer brotar alguns pensamentos, que nem urtiga em tapera
abandonada.
E não é nada fora da cachola matutar
sobre assunto ligado à erva-mate nessa medonha época da história rio-grandense,
em que o mais importante produto da cesta-básica gaudéria (sem esquecer,
naturalmente, da picanha gorda e da rapadura) anda alcançando valores nunca
antes praticados, restringindo o chiar das chaleiras e ressecando porongos do
Chuí a Ijuí, do Alegrete a Curumim. A erva-mate está na ordem do dia, o preço
do quilo está mais alto que pescoço de garnisé assanhado e, daqui a pouco, para
economizar, teremos de começar a passar a cuia que nem copo de caipirinha, cada
um dá um gole e quem roncar a bomba paga o próximo pacote. Barbaridade!
Mas assim, índio velho, o que eu
queria prosear mesmo é que então me manetearam a experimentar o tal do sorvete
de erva-mate, e tchê, vou te contar, não é por nada, mas te falo em coisa que me
desceu virada, sabe? Pos não gostei, e isso que me amanso num sorvete que nem
terneiro guaxo numa mamadeira de leite. Não gostei do sabor daquele troço,
apesar da cor verdinha-clara parecida com erva que nem te conto, e do sorriso faceiro
das donas do bolicho, orgulhosas da sua invencionice, como tinha de ser. Mas não,
não, sorvete de erva-mate, para mim, não, obrigado, tchê, e para tirar o gosto
daquilo da boca já me botei a pescocear em busca de uma chaleira pra cevar logo
um mate ou mesmo de um gole de pura pra espantar o sabor.
O fato é que a gente vai
serenando as melenas e ficando a cada dia que passa mais aquartelado nos
costumes de antigamente, mais teimoso que pai de chinoca nova. Sorvete de
erva-mate? Não, tchê, obrigado, essa eu passo, não quero e revido. Me dê é um
chimarrão de erva boa mesmo, enquanto o salgado do preço não fizer cócega no
fundo da minha guaiaca.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de fevereiro de 2014)
2 comentários:
A linguagem foi inspirada no rodeio de Vacaria? :)
Provavelmente sim... oigalê!
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