Porque não sou filósofo, não sei
como a Filosofia trata do assunto. Porque não sou psicólogo, desconheço a
abordagem psicanalítica do tema. Porque não sou erudito, fico à margem das
elucubrações que me permitiriam compreender as nuances do problema. Apenas
porque sou um eterno estranhado com as coisas do mundo é que penso nessas
coisas, sem concluir coisa alguma. Falo aqui da inconstância, esse atributo
que, a meu ver (não sei se também no dos filósofos, no dos psicólogos e no dos
eruditos), é a origem de muitos males.
Vejamos, por exemplo, a senhora
minha esposa. Dia desses andou ela descobrindo, por meio de indicações de uma
cunhada, a existência de um produto fabricado para o lar que haveria de
revolucionar a concepção de espaço dentro de nossa casa. Os lares modernos,
como bem o sabem arquitetos e projetistas, são tecidos pela junção de peças
pequenas que exigem a confecção de mobília sob milimétrico encaixe, e assim se
dá, com grande ênfase, em nosso quarto de casal, onde uma cama-box faz as vezes
de roupeiro útil para que dentro dela sejam guardados cobertores, travesseiros
extras, ventilador, caixa de ferramentas e mil e outras coisas que, de outro
modo, estariam a atravancar os corredores e a dilapidar nossa paciência.
O objeto maravilhoso esse que a
esposa (minha) descobriu por indicação da cunhada (nossa) é um saco plástico
dentro do qual você dispõe os cobertores e casacões que só ocupam lugar nos
roupeiros e se tornam inúteis no verão e que, depois de fechado, retira-se-lhe
o ar de dentro com o sugar do aspirador de pó. O vácuo vai minguando aquele
pacote todo até ficar com cerca de um terço do tamanho, os cobertores e casacos
magicamente achatados ali, fininhos, fininhos, e depois guardado dentro da
cama-box no espaço similar ao de um lençolzinho. Genial!
Só que, madrugada dessas, fui
acordado de supetão com a cama-box sendo herculeamente erguida por minha esposa
comigo em cima, de onde quase fui arremessado para baixo, porque ela, com frio,
precisava do cobertor que estava dentro do saco a vácuo. Terrível essa
inconstância. Como, senhora? Estou a reclamar da esposa? Não, senhora, imagine!
Estou indignado é com a inconstância do tempo nessa cidade!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de janeiro de 2015)
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