O Procon, o Inmetro, a
Procuradoria, o Vaticano, a Soama, o Giovani Grizotti, o Greenpeace, o
Fantástico, enfim, quem, exatamente, não sei, mas alguém deveria assumir a
causa e tomar alguma providência contra a comercialização dessas balancinhas
caseiras que compramos motivados por sei lá qual espécie de obsessão e que
acabam se transformando em causa diária de dor, muita dor, pesadas dores. E põe
pesadas nisso, porque, cá entre nós, quem é que gosta de encarar a realidade
dos quilinhos a mais adquiridos depois dos inevitáveis festins de final de ano,
hein? Quem?
E ainda se fossem apenas
“alguns” e tão-somente “quilinhos” a mais, mas sabemos que não é assim. Hoje
pela manhã, ao sair do banho e subir mastodonticamente, calcanhar por
calcanhar, sobre a balancinha que reside estratégica e psicopaticamente no
banheiro, levei aquele susto ao verificar que de fato estavam ali, pendurados
em mim, exatos três quilos a mais do que na última pesagem, realizada ainda na
alegria da antevéspera decembrina das festividades que estavam por vir. Três!
Três mil gramas excedentes espalhados pelo meu corpo. Pior: espalhados, não.
aglomerados contando fofoca todos ali, ao redor de minha cintura. Xô,
Satanazes!
E vem cá, amiga leitora,
parceiro leitor: a gente sabe exatamente, cá em nosso mais pesado íntimo, de
onde vem cada punhado desses gramas a mais que a diabólica balancinha se regozija
em apontar, não é mesmo? Estão ali os nacos a mais do peru natalino acompanhado
pela farofa especial feita pela Tia Germínia; estão ali as fatias de mousse de
pepino elaboradas pela nora da cunhada da sobrinha; estão ali os cálices
enfileirados de espumante brut da Serra Gaúcha; estão ali as pazadas de
lentilha que enfiamos goela abaixo gritando “Feliz Ano-Novo” sob chuva de fogos
de artifício na sacada do apartamentão do primo; estão ali as frutas cristalizadas,
os chesters, os pavês, os arroz à grega, os panetones recheados, as
cervejinhas, os drinques, as caipirinhas, os chocolatinhos no meio da tarde, os
copos de Coca-Cola para rebater a ressaca. Está tudinho ali.
A balancinha não mente jamais. Tem
horas que essa sinceridade gritante pesa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de janeiro de 2015)marcos
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