Que me perdoem os puristas, mas
a simples evocação da tradição não serve como argumento para evitar que se
tente fazer mudanças. Não querer mudar “porque sempre foi assim” ou “porque
sempre fizemos desse jeito” é uma postura temerária que não encontra eco no estimulante
e contínuo processo de desenvolvimento da civilização humana. Somos, nós,
humanos, seres cambiantes por natureza, e a mudança faz parte intrínseca de
nossa essência. Somos inclinados a mudar, apesar do temor que a própria ideia
de abandonarmos hábitos arraigados nos causa.
“Não se mexe em time que está
ganhando”, vai dizer alguém. Sim, mas aí eu lembro o ensinamento que o futebol,
nosso esporte nacional, nos oferece: é comum estarmos ganhando e o time
adversário virar o jogo nos dois minutos finais da partida. Aí sim, não haverá
mais tempo algum para efetuar mudanças, e a partida que estava ganha, será
irremediavelmente perdida. Às vezes, a melhor estratégia para garantir a
sobrevivência é justamente mudar o time que está ganhando, para assegurar que,
com a mudança inesperada, a vitória seja garantida até o final.
Mas, claro, a humanidade não foi
dotada com o dispositivo da previsão do futuro. Nunca se sabe se as mudanças
darão certo, se vão realmente resultar naquilo que se esperava delas. Para saber,
é preciso tentar. E saber recuar, voltar atrás, em caso de erro. Mas o processo
da evolução se dá justamente embasado na equação erro x acerto. Não há outra
forma de avançar. Nem sempre a mudança significa avanço, mas isso só se
perceberá depois da tentativa feita. É pagar para ver. Tem sido assim ao longo
da história da humanidade.
Deixamos de viver nas
tradicionais cavernas, quando dávamos de clava nas cabeças uns dos outros para
impor nossas vontades. Até a missa deixou de ser rezada em latim, conforme
mandava a tradição secular da Igreja. Deixamos de pisar nos espinhos e criamos
o primeiro chinelo. Cansamos de pegar chuva e criamos o guarda-chuva. E assim
vamos indo, chacoalhando as tradições. Mas, além de sabermos ousar, é sempre
necessário termos em vista que um eventual recuo frente a uma tentativa
fracassada também pode ser vital e estratégico. Quem disse que é fácil?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de janeiro de 2015)
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