Tudo depende do ponto de vista.
Tudo. Nada é absoluto. Nada. As coisas na vida apresentam, no mínimo, dois
lados. Sabem muito bem disso os jornalistas, que passam suas vidas
profissionais lidando com versões dos fatos, e o Tio Patinhas, o maior dono de
moedinhas do mundo, esses objetos que, por essência, possuem dois lados.
Já matemáticos e arquitetos têm intimidade com
objetos repletos de lados, como cubos, pirâmides, tetraedros, pentágonos,
coisas assim. É lado que não acaba mais. E cada lado apresenta um universo
infindo de versões possíveis, fazendo do mundo uma teia de complexidades
impossível de ser reduzida a um pequeno e raso denominador comum. A vida e o
universo desconhecem os denominadores comuns, os ignoram e os subvertem. Por
isso que viver é uma aventura desprovida de manual e de tutoriais definitivos.
É preciso ir vivendo e procedendo às avaliações das coisas da melhor forma
possível.
Essas considerações se apossaram
de minha mente manhã dessas em que eu perambulava pelas dependências de um
shopping de malhas situado em cidade vizinha, fazendo companhia e guarda às
necessidades aquisicionais da senhora minha esposa. Mal começamos a flanar
pelos corredores no ziguezague típico de quem olha uma vitrine do lado de cá e
cruza para olhar a vitrine do lado de lá, quando uma moça, atendente de uma das
lojinhas, saiu porta afora a fim de dar um pulinho sei eu lá aonde e, ao cruzar
por nós, reconheceu minha esposa, abriu um largo sorriso e disse-lhe “oi, tudo
bem?”.
Opa! O sinal de alerta ligou.
Quando a atendente de uma loja, em um shopping situado a cerca de 30
quilômetros de distância, reconhece a sua esposa a ponto de cumprimentá-la
efusivamente, é porque algo vai mal. Quer dizer, algo vai muito bem no que
tange à simpatia da atendente e sua capacidade de reconhecer clientes. Mas, ao
mesmo tempo, talvez algo possa estar indo mal com a saúde financeira de meu
cartão de crédito e com a frequência com que a senhora minha esposa, a mesma
citada no meio deste texto, coloca os pés e a carteira naquele estabelecimento.
É preciso verificar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de janeiro de 2015)
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