Final de tarde de sábado,
horário ainda de verão, dia claro apesar das nuvens que instabilizam o tempo
nesta época do ano. O casal de amigos convidados para jantar chega no horário
combinado. Gentil e elegantemente, ela traz um pavê de chocolate produzido por
ela mesma, para colaborar na sobremesa. Já são de casa, não é a primeira vez
que vêm compartilhar sabores e simpatias e a sala é de pronto tomada pelas
conversas animadas que vão se interpondo com os drinques que vou alcançando ao sabor
do perfil de cada um, a título de aperitivo. Todos os elementos do típico
quadro de relax de final de semana entre amigos entram em campo e vão fazendo a
sua parte. A noite navega em águas tranquilas e aconchegantes.
Conversa vai, conversa vem, a
mesa já está posta com os quitutes preparados para aquilo que se converterá,
conforme o previsto, em um longo e agradável happy hour. Dessa vez quem vai
dirigir de volta para casa é ela, portanto, as garrafas de espumante terão de
ser solucionadas por nós três. E não nos fazemos de rogados: mãos e beiços à
obra. Tim-tim!
Tudo vai indo muito bem até que
o inevitável acontece, para truncar o andamento fluido da conversa. Quem estava
fazendo a digressão era o amigo convidado, que, a fim de ilustrar o que dizia,
resolveu evocar os três tenores que cantavam juntos e fizeram sucesso mundial
na década de 1990. “Luciano Pavarotti, José Carreras e... e... puxa, quem era o
terceiro, mesmo”? Pois é: quem era? Tento ajudar e coloco a funcionar também o
meu cérebro, em voz alta: “Pavarotti, Carreras e... e... puxa, me sumiu”! O
amigo segue tentando: “Eram o Carreras...”. Minha esposa grita da cozinha: “O
Pavarotti!”. “Esse já dissemos, falta o outro”, digo eu. “Pavarotti, Carreras e
o... o...”. E ficamos nesse atoleiro, empacando a conversa, até que minha
esposa tem a ideia genial de entrar na internet. Pronto, solucionado com uma
teclada: Pavarotti, Carreras e Plácido Domingo!
Claro, Plácido Domingo, como
fomos esquecer? Agora podemos seguir adiante. A internet desempaca a conversa. Que
seria da noite sem ela? Será que no passado não empacávamos? Ou isso, ou
consultávamos as... Como era mesmo que se chamavam? As... as... Ah, sim, as
enciclopédias! De novo, salvos pelo Google.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de janeiro de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário