Em tempos de terrorismo
tresloucado como esse que amargamente vivemos, as profissões de chargista,
humorista e jornalista entraram para o topo do ranking das atividades de maior
risco de vida no planeta, haja vista a chacina ocorrida na França na semana passada.
O ato de identificar atividades de risco pode ser uma ferramenta muito útil no
processo de compreensão do perfil de determinadas sociedades e eras,
fundamental para sociólogos, antropólogos, historiadores e pesquisadores em
geral.
Tomemos por exemplo a Roma Antiga
do início do primeiro milênio da Era Cristã. Apesar da pompa, do poder, da
soberba e do acesso franqueado a orgias e às diversões sangrentas do Coliseu, a
atividade de imperador romano era uma das mais arriscadas que se poderia
imaginar naqueles tempos remotos. Basta ver que, entre o total de 12 Césares
que Roma gerou ao longo de sua história, pelo menos seis deles foram
assassinados em pleno mandato (alguns deles, desaforadamente mortos na frente de
instituições como o Fórum e o Senado).
Para se ter uma ideia de como
era a coisa, pegue-se os anos de 68 d.C. e 69 d.C., quando Roma foi
sucessivamente governada por quatro Césares devido à morte de três deles, em
sequência. O primeiro foi Galba (5 a.C. a 68 d.C.), que assumiu o poder após o
suicídio de Nero, que tirou a própria vida após tacar fogo em Roma. Galba
governou por sete meses até ser morto dentro do Fórum, em 15 de janeiro de 68
d.C., por conspiradores que levaram Óton (31 d.C. a 69 d.C.) ao poder. Óton governou durante 95 dias, até suicidar-se
em 16 de abril de 69 d.C., a fim de encerrar uma guerra civil. No lugar de Óton
entrou Vitélio (15 d.C. a 69 d.C.), que governou com terror até 22 de dezembro
de 69 d.C., quando foi cruelmente assassinado pela multidão e teve seus membros
lançados ao Rio Tibre. Foi sucedido por Vespasiano que, enfim, permaneceu dez
anos no poder de Roma, morrendo em 79 d.C. devido a uma prosaica inflamação
intestinal.
Você arriscaria assumir o posto
de César na Roma Antiga? Eu é que não. Já no Brasil, o risco maior reside no
simples fato de nascermos brasileiros mesmo. Ser brasileiro é profissão de
risco máximo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de janeiro de 2015)
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