É batata. Ao menos, comigo, é
sempre batata. Eu já posso contar que vai ser batata, e não tem outra: acaba
sendo batata mesmo. A situação chega a se assemelhar com aquela máxima do Barão
de Itararé (Barão de Itararé era o pseudônimo do escritor e jornalista gaúcho Apparício
Torelly, falecido em 1971, que fazia sucesso com suas frases de efeito), que
dizia assim: “De onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”. Pois em
se tratando de mim, é mais ou menos assim: batata pura.
A tal da batata se dá sempre que
vou receber visitas para o jantar. Sempre. Não importa se a visita é chegada
(mãe, sogros, cunhados, amigos íntimos) ou não tão chegada (amigos não-íntimos,
inimigos, completos desconhecidos, astros de Hollywood). A batata vai se
materializar sem dó nem piedade, porque sofro da maldição da batata. Ela varia
um pouco, porque uma das características da batata é ser criativa e sempre
conseguir me pegar desprevenido, de calças curtas ou com as calças na mão.
Nunca consigo, portanto, me prevenir a contento contra a batata, apesar de meus
reconhecidos esforços.
Noite dessas, ao receber visita
(da categoria dos íntimos), a batata aprontou em relação à temperatura ideal
daquilo que deveria ir para a mesa. Traduzindo em miúdos: o que deveria estar
quente estava frio e o que deveria estar gelado estava quente. E não houve
jeito de inverter a equação, pois que era batata, estava dado que seria assim e
assim foi. Os filés à parmegiana e a lasanha aos cinco queijos, adquiridos
previamente em estabelecimento local de reconhecida qualidade, não houve Cristo
(e forno) que os fizesse adquirir a temperatura ideal de borbulha para serem
devidamente saboreados à mesa. Por sua vez, não houve turbo-congelamento do
freezer ou baldinho de gelo que conseguisse deixar o espumante brut, obtido
diretamente na cave artesanal de produtor bassanense, na gelada temperatura que
a quentíssima noite exigia.
Assim, brindamos com espumante
morno e saboreamos lasanha gelada, alegres com o reencontro, esse sim,
devidamente caloroso, na temperatura ideal que o cultivo das relações exige e
requer. De resto, no entanto, foi, como sempre, batata. Não se pode ter sempre tudo
o que se quer na vida, já dizia Mick Jagger...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de janeiro de 2015)
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