Como já dizia Machado de Assis:
é batata! Não, nosso escritor maior nunca disse isso. Quer dizer, até pode ter
dito informalmente, no refúgio de seu lar ou entre amigos, afinal, fora a
genialidade literária incomum, não passava de um ser humano comum e seres
humanos comuns dizem, vez em quando: é batata! Machadinho (que é como o
chamamos, os íntimos) pode, então, sim, também ter dito alguma vez a expressão,
mas não a ponto de que ela o caracterizasse.
Como, minha senhora? Eu estou
confundindo? Machado escreveu sobre batatas, mas foi diferente, é isso? Sim,
isso mesmo. Como era, mesmo, minha senhora? O que ele escreveu, e que o
caracteriza, é a expressão “ao vencedor, as batatas”? Sim, exato! Eu sabia que
havia batatas na jogada machadiana. Obrigado, minha senhora. Fico-lhe em dívida
por essa.
Mas, se o que Machado escreveu foi
“ao vencedor, as batatas”, e não simplesmente “é batata!”, então Machado não
serve para ilustrar e engalanar o início desta minha crônica, porque o que eu
quero expressar é exatamente a exclamação “é batata!”, e, portanto, não posso
evocar Machado, o que empobrecerá a pretensão do texto. Pena. Deixemos Machado,
não sem tristeza, e fiquemos somente nas batatas, que é o que nos resta. E
vamos logo, que o espaço se vai extinguindo.
Pois é batata, diria eu mesmo, então!
O prato do vizinho é sempre mais saboroso, mais aromático e mais apetitoso do
que o seu prato. Vá a um restaurante que serve empratados, que é quando a
comida já chega toda enfiada (“disposta” seria mais elegante, mas estamos
escrevendo sem a companhia de Machado, lembra?) dentro do prato, que você logo
vai notar. O pedido do seu companheiro de mesa, no prato que lhe chega ao lado,
sempre parecerá superior ao seu. É batata, mesmo que não haja batatas.
Foi por isso que desenvolvi uma
tática. Sempre tento ser o último a pedir e simplesmente digo ao garçom: “quero
igual ao dele”. Só que não adianta: minutos depois, chegam à mesa os pratos
contendo o mesmo pedido, e sempre o filé do outro estará melhor preparado do
que o meu, o arroz mais soltinho, a batata mais batata. É batata. Batata que é
batata será batata sempre.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de janeiro de 2015)
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