Na década de 1970 do século
passado, quando eu era criança, meu pai se botou a comprar uma coleção em
fascículos lançada pela Editora Abril, intitulada “Os Cientistas”. O barato da
coleção, que chegava semanalmente às bancas, era uma caixa de isopor dentro da
qual vinham instrumentos, elementos químicos e instruções para reproduzir em
casa os experimentos básicos que davam a tônica das descobertas de cada cientista
apresentado.
Dessa forma, fui adentrando aos
poucos no fascinante universo científico representado por bússolas, tubos de
ensaio, microscópios, cadinhos, pinças, pilhas, fios, lâminas, nitratos, sais,
essas coisas todas. O interessante é que o acesso a esse material me era
franqueado por meu pai e eu me divertia tentando reproduzir os experimentos à
tarde, em casa, dentro das quatro paredes de meu quarto. Olhando em
retrospecto, só hoje percebo o quão perto esteve o mundo de ver surgir ali, nos
recônditos da Rua dos Viajantes, um futuro perigoso cientista louco, mas o
Destino quis me conduzir por veredas diferentes, graças aos deuses todos.
Entre tantos elementos que se
acumulavam ali naquela coleção de 50 caixinhas de isopor, um dos que mais me
chamavam a atenção era um par de pequeninas barras de ferro imantadas nos
polos. Eram dois ímãs que se repeliam quando aproximados em seus polos iguais e
se atraíam quando aproximados em seus polos opostos. Eu ficava fascinado com o
poder mágico de atração daquelas pequenas barras e saía pela casa arrastando
clipes, pequenas colheres e outros objetos metálicos que pudessem ser atraídos
pela força dos ímãs.
Com o passar dos anos,
afastei-me do mundo científico e mergulhei nas ciências humanas do jornalismo e
da literatura. O que ficou daquela época e daquelas experiências foi a
convicção de que, a exemplo dos pequenos bastões de ferro imantados, nós, seres
humanos, somos também poderosos ímãs, capazes de atrair para nossas vidas
exatamente aquilo que, no íntimo, mais profundamente desejamos. Nem sempre
esses desejos são conscientes. Por isso, é preciso prestar atenção e saber
detectar o que estamos atraindo, e o por quê. A resposta para esses casos se
esconde no laboratório da alma.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de janeiro de 2015)
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