Camboriú em Santa Catarina e a
Praia do Cassino aqui no Rio Grande do Sul eram os dois principais cenários de
férias litorâneas para meus pais, minha irmã e eu, nos idos dos anos 1970 e
início dos 1980. Revisitando fotografias e filmagens caseiras feitas por meus
pais naquela época, vou me dando conta de quanta coisa mudou nesses cenários,
passadas algumas décadas.
Claro que não vou cometer a
imprudência de me deter em questões estéticas dos protagonistas de tais
registros visuais, a começar por mim mesmo e a invejável magreza, a ausência de
adiposidade abdominal, o bronze obtido pelos bronzeadores (nem se falava em
protetor solar na época), a farta cabeleira a proteger os pensamentos do calor
do sol e outros quesitos mais. Esses elementos, deixemos de lado na
investigação que agora coloco em curso, para o bem de minha autoestima.
Queria mesmo era comentar sobre
os saquinhos plásticos transparentes que minha irmã e eu carregamos à beira-mar
tanto nas fotografias quanto nas filmagens. Estamos ambos ali, fantasiados de
banhistas, eu com cerca de sete anos, minha irmã com quatro, andando para trás
e para frente ao sabor das pequenas marolas que vão depositando dezenas de
conchinhas marinhas aos nossos pés. Catávamos aquelas conchinhas, fazíamos coleções e depois
insistíamos em transportar de volta para casa na longínqua Ijuí. Uma que outra
estrela-do-mar ressequida também era capturada como troféu e, durante alguns
dias, no retorno, o cheiro de mar permanecia ainda em nossos quartos devido à
presença das conchinhas, até o ponto em que começavam a apodrecer e nos víamos
obrigados a jogá-las fora.
Hoje caminho pelas praias de
nossos litorais gaúcho e catarinense e meus pés raramente são pinicados pela
ponta de alguma conchinha que vem trazida à beira-mar pela rebentação. Nunca
mais vi crianças de saquinhos nas mãos compenetradas caçando conchinhas e
estrelas-do-mar, e fico a me perguntar se sumiram-se as conchinhas, sumiram-se
as estrelas-do-mar, sumiram-se as crianças ou o que sumiu mesmo foi a brisa de
poesia que soprava solta dezenas de anos atrás à beira do mar.
Dúvidas, apenas, cujas respostas
nem sei se desejo mesmo conhecer.
2 comentários:
Escrevo para informar que nas praias cariocas não existem mais conchinhas!!!
Oi rafaela... Sim, acho que as conchinhas migraram para outro planeta....
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