Uma vez que todos nós somos
seres autocentrados, egocêntricos e autorreferentes, não é de se estranhar que
passemos nossas existências alimentando preconceitos e maus julgamentos sobre
as outras pessoas embasados no fato de que as analisamos e as medimos a partir
das qualidades que pressupomos existir em nós mesmos. Nós próprios julgamos ser
a medida para o que há de melhor na humanidade, de mais correto, mais bonito,
elegante, charmoso, inteligente, espirituoso, politicamente correto, engraçado,
esperto e fofo. Ou vai me dizer que você não acha tudo isso de você mesmo?
O problema é que ninguém está se
dando ao trabalho, nesses dias de
preocupações com a superpopulação do planeta, de também aferir as
consequências por certo danosas da proliferação desenfreada de egos humanos a
inflarem e exigirem mais e mais espaço por sobre a superfície da Terra. Porque
a coisa, como podemos ver analisando friamente o entorno social que nos cerca,
funciona normalmente assim: você é o centro do universo, e tudo gira em torno
de seu umbigo, seja ele do tipo fechadinho, ou puxado para fora igual a
laranja-de-umbigo ou avaletado para dentro. Nossos umbigos atraem tudo para o
seu próprio centro, reproduzindo a imagem dos buracos negros, que absorvem,
dizem, até mesmo a luz. Umbigos iluminados, portanto, esses nossos.
As pessoas à nossa volta são
mais feias ou mais bonitas do que a gente; ou mais magras ou mais gordas; ou
mais espertas ou mais burras; ou mais felizes ou mais sofredoras; ou mais
abonadas ou mais miseráveis; ou mais sortudas ou mais azaradas. Mas sempre a
régua para medi-las somos nós mesmos. Compomos, nós, seres humanos, um
agrupamento de sete bilhões de centros do universo se entrechocando sobre a superfície
da Terra. “Fulano está acima do peso”, dizemos nós de Fulano, que pesa 200
quilos, para a alegria de nossos esbeltos 190. “Beltrana é uma
es-can-da-loooooooo-saaaaaaaaaa”, berramos para as amigas no salão de beleza
contra Beltrana (que está obviamente ausente), fazendo nosso singelo
escandalozinho.
Nossa sorte é que não somos
iguais uns aos outros. Apenas semelhantes em nosso cultivo ao narcisismo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de fevereiro de 2015)
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