No final das contas, o herói era
vilão. Parece até abertura de fábula, de conto de fadas, de História da
Carochinha (pronto, entreguei os grisalhos da cabeça agora com essa invocação
da Carochinha, mas tudo bem). Mas não, é tudo verdade. Aconteceu nos Estados
Unidos, lá, onde tudo pode acontecer.
A polícia da cidade
norte-americana de Albina, no estado do Oregon, andou prendendo na semana
passada um assaltante de banco chamado Mark Rothwell, de 49 anos. O meliante
invadiu uma agência bancária armado e fugiu faceiro, carregando um promissor
saco contendo exatos US$ 15.703, o equivalente a R$ 45 mil. O bacana nos
Estados Unidos é que os ladrões de banco fazem igualzinho às histórias em
quadrinhos dos Irmãos Metralha: saem correndo dos bancos carregando um saco
cheio de notas de dinheiro.
Mas, enfim, até esse ponto, nada
de mais, afinal, roubam-se bancos a toda hora, lá e cá. A bizarrice começou a
surgir quando capturaram o dito assaltante e, ao fazerem-lhe a ficha,
descobriram que se tratava do mesmo Mark Rothwell que, cinco anos antes, havia
ganhado uma medalha de herói por ter desarmado um outro assaltante que tentava
roubar outra agência bancária em Portland, cidade vizinha a Albina. Ou seja: o
herói de 2010 se transformou no Irmão Metralha de 2015.
Ao menos, isso é o que parece.
Minha teoria (eu sempre tenho uma teoria) é de que o tal Mark Rothwell sempre
teve vocação de assaltante e o que aconteceu em 2010 foi que o ladrão que ele
desarmou teve o azar de agir mais rápido do que ele na agência que o próprio
Mark desejava assaltar. A ação dele ao desarmar o assaltante não foi motivada
por heroísmo, mas, sim, por demarcação de território.
A confusão e a pressa em
medalhar Rothwell se explicam pela ânsia que as pessoas têm de detectar entre
nós a existência de heróis em potencial. Desejamos identificar pessoas que
representem e personifiquem as melhores facetas que os seres humanos são
capazes de expressar. Que simbolizem nosso lado bom. Sim, porque, de
representantes do outro lado, estamos, infelizmente, sempre muito bem servidos.
Pena que o Mark Rothwell revelou-se, no fim da história, um sócio do lado ruim.
Ao menos, que devolva a medalha, né...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de fevereiro de 2015)
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