Em fevereiro, como a canção se
encarrega de não nos deixar esquecer, tem Carnaval. Sabemos disso e já vamos de
antemão nos preparando, tanto os que gostam (carregando as pilhas do pé para
soltar o gingado no samba) quanto os que não gostam (à procura de retiros onde
se esconder da folia regida por Momo). Sinônimo de festa, alegria, diversão e
desopilação dos estresses acumulados ao longo do ano que passou, o Carnaval já
serviu de pano de fundo para um ato importante na História não tão remota assim
do Brasil. Mas, como nenhuma canção canta o feito, ele acaba sendo varrido para
o baú da memória, dispensado igual confete e serpentina em quarta-feira de
cinzas.
O Carnaval que entrou para a
História foi o de 12 de fevereiro de 1888, exatos 127 anos atrás, portanto. O
Brasil ainda vivia os últimos momentos da monarquia comandada por Dom Pedro II
(a República seria proclamada já no ano seguinte, em 1889), e o imperador
estava na Europa para tratamento de saúde, tendo deixado sua filha, a Princesa
Isabel, regendo o país. Como ainda lembramos, a Princesa Isabel era uma
defensora ativa do abolicionismo, queria libertar da escravidão a imensa
população de negros oriundos da África, e não poupava esforços nesse sentido.
Um desses esforços ficou
conhecido como “A Batalha das Flores”, que a Princesa promoveu naquela data de
12 de fevereiro de 1888, dia de Carnaval, em Petrópolis, no Rio de Janeiro,
sede da família imperial. Importando uma tradição francesa, ela, juntamente com
o marido, o Conde D´Eu, os filhos do casal e alguns amigos, desfilaram pelas
ruas da cidade em carruagens ornamentadas com camélias (a flor símbolo dos
abolicionistas) e distribuíam as flores para a população, divulgando a causa
pela libertação dos escravos. A assinatura da Lei Áurea, pelas mãos da Princesa
(que, por causa disso, ficou conhecida como “A Redentora”), viria logo depois,
em 13 de maio do mesmo ano.
Carnaval, portanto, em tempos
idos, já foi sinônimo de conscientização das massas em favor de uma causa
crucial para a evolução da sociedade brasileira. Se fosse hoje, não haveria
camélia que bastasse para representar o número de problemas a serem
solucionados no país que herdamos da monarquia. Momo, o deus da Folia, parece
reinar, hoje em dia, ao longo de todos os 365 dias do ano.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de fevereiro de 2015)
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