A nova habitante de nossa casa
finalmente chegou, antes de ontem. Já fazia algum tempo que ela vinha sendo
esperada, com ansiedade e expectativa. Sabíamos de antemão que sua chegada iria
alterar nossas vidas, iria dar um significado novo à nossa rotina,
transformaria o cotidiano. Isso na medida em que o cotidiano pode ser
transformado, em que a rotina pode ser ressignificada e em que a vida pode ser
alterada a partir da chegada de uma nova cadeira para o escritório, claro.
Mas foi o que aconteceu. Chegou
a cadeira pela manhã quando ainda estávamos ambos em casa, minha esposa e eu, trazida
pela transportadora. Cadeira de escritório, ultramoderna, ergométrica,
anatômica, repleta de alavancas cujas funções pretendo descobrir depois de me
recuperar do susto inicial proporcionado pelo solavanco a que fui submetido
estando sentado nela e mexendo na alavanquinha posicionada logo abaixo do
assento, o que me fez cair quase ao nível do solo e foi por pouco, não fosse a
ação atenta do anjo da guarda, que não espatifei o queixo e os dentes contra a
beira da escrivaninha, ufa, dessa escapei.
Mas é coisa linda de se ver essa
nova cadeira profissional que agora compõe o cenário de meu escritório caseiro (sim,
“home office”, eu sei, eu sei). Fico observando o objeto ao longe, a partir da
porta do escritório, e ponho-me a imaginar o quão felizes seremos juntos: quais
os projetos que produzirei a partir de agora, sentado nela; os textos que
escreverei; as ficções que elaborarei; os e-mails que remeterei; as crônicas
que criarei...
Nada mais será o mesmo agora que
pude trocar a cadeira que compõe o jogo da sala de jantar (temporariamente
deslocada para o serviço no escritório) por esta criada em prancheta de
engenheiro especialmente para vir abraçar o meu corpo, dar-lhe conforto e
abrigo ao longo das horas que passo sentado à frente da tela do computador,
voltado aos meus afazeres. Você não precisa de uma cadeira anatômica de
escritório até o momento em que ganha uma. Mas não sei, ela ainda está fria...
A crônica de ontem, escrita ainda na cadeira antiga, foi superior a esta...
Veremos o que vai acontecer...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de julho de 2015)
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