Ô inverninho gelado esse, hein?
Fazia tempo que não enfrentávamos um
inverno tão rigoroso, com tantos dias seguidos de frio intenso. Às vezes
nem é tanto o frio em si, mas sim a sensação provocada por um conjunto de
fatores que nos predispõem psicologicamente (e fisicamente também, claro) a
batermos queixo e a enterrarmos nossos pescoços blusões adentro, como o vento,
a umidade, a neblina, a chuvinha intermitente, a ausência pura e simples do
sorriso do sol, os exércitos de nuvens roxas estacionados bem acima de nossas
cabeças. E isso que ainda nem geou! Ou geou? Geou? Não? Sim? Não importa: tá
frio!
Pois bem, como sou um cronista
notadamente leve e mundano (não confundir com leviano e mundista), preocupo-me
com o bem-estar psicológico de meus leitores e foi por essa razão que decidi
aqui elencar uma série de informações que, espero, colaborem para, se não
aquecer um pouco mais seus dias gelados, ao menos municiá-los de dados que
amenizem essa sensação de pena que temos de nós mesmos, achando que estamos a
enfrentar as piores temperaturas do planeta. As coisas não são bem assim, dê só
uma espiada nos próximos parágrafos.
Está reclamando por morar na
Serra Gaúcha porque aqui faz frio de obrigar pinguim a caminhar de pantufa e
foca a dormir de touca? Isso porque você não sabe que a mais baixa temperatura
já registrada na Terra se deu na Estação Vostok, na Antártica russa, em 21 de
julho de 1983, quando os termômetros assinalaram 89,2 graus centígrados abaixo
de zero! E a gente aqui reclamando de oito graus acima de zero! Esse registro
superou o anterior, que era de 71,2 graus negativos, ocorrido na Rússia em
1926. Sorte sua que nem era nascido naquela época, muito menos na Rússia, hein?
No Brasil, o recorde de temperatura negativa deu-se em 1952 na cidade de
Caçador, em Santa Catarina: -14º C! Que tal?
E vamos em frente. Mais dados
gelados, extraídos diretamente do fundo do freezer para amenizar sua sensação
de infelicidade térmica. Dê graças a Deus por não morar em Marte, planeta
vizinho nosso que chega a apresentar temperaturas de até 143 graus negativos em
certas regiões. E nem pense em pular para Vênus, onde a temperatura mínima na
superfície pode chegar a 220 graus abaixo de zero. Quer saber como é a coisa em
Plutão, o planeta mais distante do Sol? Não? Ok, não vou mais incomodar. Bom
inverno!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de julho de 2015)
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