Não tenho tempo para acompanhar
todas as transmissões que os canais de tevê proporcionam, enfocando as
competições das diversas modalidades esportivas em disputa nos Jogos Pan-Americanos
que se desenvolvem em Toronto, no Canadá. Pior: confesso que fui meio que pego
no contrapé, porque, quando me dei por conta, o Pan já havia começado e eu
sequer havia me preparado. Preparar-me, nesse caso, significa obedecer a um
ritual autoimposto para minha condição de telespectador ativo: lugar no sofá da
sala reservado; tabelas e agendas das competições extraídas dos jornais e à
mão; estoques razoáveis de salgadinhos, bebidinhas e porcarias em geral a serem
consumidos ao longo do período, essas coisas que faço quando rolam Copas do
Mundo e Olimpíadas. E que o Pan também mereceria e merece.
Só sei que, quando vi, dias
atrás, minha esposa gritou lá da sala, afirmando que estavam transmitindo a
solenidade de abertura do Pan. “Pan?”, gritei eu, de volta. “É!”, respondeu
ela. “Transmissão ao vivo?”, voltei a perguntar, corredor adentro. “Sim!”,
confirmou ela. “Solenidade de abertura?”, insisti. “Aimeudeus!”, começou ela a
se irritar, com cavalar dose de razão. Vim correndo, deixando parte das
chinelas no chão do corredor, meu lugar especial no sofá da sala desprovido de
reserva e já ocupado por ela, mas tudo bem, e ainda consegui assistir ao
desfile da delegação brasileira de atletas. Agora, ao longo das últimas
semanas, reservo as noites para acompanhar as transmissões das modalidades que
vão sendo disputadas ao vivo naqueles horários, dessa vez a diferença de fuso
horário jogando a nosso favor, dando prioridade aos esportes que mais aprecio,
como ginástica olímpica, natação, boxe, futebol, vôlei e alguns outros (e
curling, não tem curling?).
E me emociono e me encanto com o
surgimento desses nossos atletas medalhistas, muitos deles tão olimpicamente
desconhecidos de nosso próprio povo e de nossa própria mídia, tão mais ocupada
em ceder espaço a subcelebridades que não fazem mais do que criar factoides
para aparecer, em detrimento de brasileiros de verdade que superam todas as dificuldades
e fazem bonito em ouro, prata e bronze lá fora. Ocasiões como essas são
perfeitas para trazer a público os perfis de brasileiros de verdade, cidadãos
que nos enchem de orgulho e que fazem renascer a energia necessária para ainda
acreditar em nós.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de julho de 2015)
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