O mundo está cada vez mais
especializado, em todos os aspectos, em tudo o que nos cerca. É uma tendência,
a coisa segue por esse rumo, não há como fugir. É preciso aceitar e aprender a
conviver com as novas regras, dançar conforme a música para não dançar no
sentido figurado, que é o de sobrar, ficar deslocado, fora de moda, estranho no
ninho, penetra na festa.
A era dos generalistas, dos
amadores, dos chutadores e dos diletantes está se acomodando no passado. É uma
era que já era. Não basta mais conquistar uma vaga na universidade e fazer a
graduação, para orgulho da família. Não. É preciso especializar-se. É preciso
fazer mestrado, doutorado, pós-doutorado, para realmente começar a fazer a
diferença. Não basta, tampouco, ser criança nesses dias de hoje. É preciso ser
criança que vai à escola e depois faz aula de inglês, de natação, de judô, de
computação e assim por diante.
Também não basta mais ser velho.
Até porque, hoje em dia, ninguém mais fica velho, mas, sim, idoso. Terceira
idade, não é mesmo? Pois também não dá mais para estacionar na tranquilidade
aposentada da terceira idade. É preciso cursar cursos especiais para a terceira
idade, participar de excursões, ir a bailes, esbanjar saúde, transformar-se em
exemplo a ser seguido. É preciso ser especialista em tudo hoje em dia.
Especialista em ser criança, em ser profissional, em ser idoso, em tudo.
Até em nossos passatempos
precisamos nos especializar, senão, comemos poeira. Eu, por exemplo, até uns
anos atrás andava pilotando o fogão e mexendo nas panelas, depois de ter feito
algumas oficinas culinárias, me metendo a produzir refeições gourmet em casa, a
título de hobby. Agora, com essa onda de reality shows gastronômicos na
televisão, passei a estar rodeado de master chefs por todos os lados, e sou bombardeado
pelo croque monsieur preparado por minha mãe, pelo rosbife ao molho de mostrada
feito pela esposa, pela rapadura de amendoim com chocolate meio-amargo do compadre,
pela lasanha cinco queijos da sogra, pelas maioneses especiais das cunhadas,
pelos filés no disco ao molho vermelho do cunhado, pelo fricassê de frango da
irmã, pela costela com tempero secreto do sogro... Ninguém mais bebe vinho,
todos degustam varietais. E eu, eu já era. Como tenho vocação para amadorismo,
só me resta voltar ao feijão com arroz, ovo frito e bife...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de julho de 2015)
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