Ah, o sábado à noite de folga!
Que delícia, que presente raro dos deuses! Sim, eu sei que hoje é segunda,
início de semana, o final de ano ainda está longe, sequer podemos contar nos
dedos os dias que faltam para as férias, estamos em pleno meio do ano, as
atribulações do cotidiano exigindo atenção, o estresse beirando o sinal de
alerta, essas coisas, e eu venho falar de sábado. Sim, eu sei, mas é que, dadas
essas condições, o sábado, em pleno julho invernal, acaba se configurando no
oásis mais próximo e palpável que consigo vislumbrar, em meio a tanto trabalho,
tanta agenda, tantos compromissos. Assim, portanto, permitam-me discorrer sobre
o sábado.
Especialmente sobre o último
sábado, esse último, que ainda paira fresquinho em nossas lembranças, agora já
nubladas pelo peso mastodôntico de uma segunda-feira. Pois como eu ia exclamando
lá no início, ah, o sábado à noite de folga! Que raridade um sábado assim como
aquele, inesperadamente desprovido de compromissos, de braços abertos só para
mim! Nenhuma visita a receber; nenhum convite a atender, tanto social quanto
pessoal ou profissional; nenhum evento a comparecer (ninguém casando, ninguém
se formando, ninguém debutando, ninguém aniversariando, ninguém passando em
vestibular, nenhuma boda, ninguém separando, que já há quem comemore, ou
deveria); nenhuma inauguração a comparecer, já que não sou prefeito, nem vice,
nem vereador, nem secretário, nem aspone, muito menos asmene; nenhuma viagem a
fazer, nada, nada, o sábado à noite inteiro só para mim! Que rara delícia!
Mas nem tudo é perfeito neste
mundo, o que é perfeito para a inspiração do cronista, mesmo que às vezes doa e
faça a vida parecer um mar de rosas espinhudas permeada de segundas-feiras. Você
está ali no seu sabadão à noite só para você, uma singela pizza de muzzarela
pronta a ser esquentada no forno, o controle remoto da tevê a cabo preparado
para entrar em ação, quando vem pela janela aquele provocador, irresistível e
maravilhoso cheiro de churrasco sendo assado por algum vizinho distante e
impossível de ser identificado nas cercanias do bairro. E você ali, de controle
remoto na mão, a boca salivando, louco de desejo por um churrasco... Raios! Que
venha logo a segunda-feira!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de julho de 2015)
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