Dia desses, descobri que sou
“altamente recomendável”. Posso imaginar que você possa imaginar o tamanho da
surpresa que me invadiu ao tomar conhecimento de que eu, sim, eu, sou uma
pessoa passível de ser classificada como “altamente recomendável”. A surpresa
foi grande, como seria de se esperar numa situação dessas, e confesso que é
difícil descrever a sensação que se apodera de uma pessoa no momento em que ela
descobre ser “altamente recomendável”. Só mesmo vivendo a situação para saber.
O fenômeno deu-se semana
passada, quando recebi em casa, entregue pelo carteiro, uma encomenda que há
alguns dias já estava esperando. Por meio de um site de compras da internet,
mandei vir o DVD de um show que eu muito desejava ter em casa e a entrega se
deu dentro do prazo estipulado pelo vendedor, tendo o artigo chegado às minhas
mãos em ótimas condições, funcionando, tudo certinho. Fiquei muito satisfeito e
decidi entrar no tal site, a fim de proceder à qualificação do vendedor,
aprovando-o com estrelinha. Qual a minha surpresa ao perceber que existe uma
área no referido site em que também os vendedores qualificam os clientes, e lá
estou eu, devidamente qualificado como um cliente “altamente recomendável” por
diversos vendedores de quem já adquiri produtos anteriormente. Ora, vejam só!
Isso significa que, ao entrarem
nessa seção do site a fim de perscrutarem meu perfil de cliente, os vendedores
terão sobre mim as melhores referências, sentindo-se seguros em vender para mim
seus CDs, seus DVDs, seus livros e revistas, artigos que eu costumo adquirir
via internet, com certa frequência. “Vendam para ele, sem medo”, é uma das
traduções possíveis dessa qualificação que me resume: altamente recomendável.
Não foi isso que eu percebi
outro dia desses, quando entrei em uma determinada loja de determinados
produtos aqui em Caxias, a fim de fazer uma compra, e fui solenemente ignorado
pela atendente que preferiu permanecer com suas atenções direcionadas ao
whattsapp de seu smartphone, sem se dar ao trabalho de levantar-se da cadeira e
vir exercitar seu papel de vendedora, o que seria de se esperar, especialmente
nesses tempos tão bicudos. Quando temos a impressão de que somos melhor
atendidos por internet do que ao vivo, é porque algo está altamente
desrecomendável, será que não?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de julho de 2015)
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