Tudo na vida é relativo, já
dizia Einstein décadas atrás, ao raciocinar sobre as coisas do mundo. E é
mesmo, afirmo eu, décadas depois, consolidando assim, com minha anuência, a
credibilidade do cientista famoso. “Ego também é uma questão de relatividade”,
pensará o leitor crítico destas sempre mal-digitadas, e ele está certo também.
Mas, vamos aos fatos, porque, sem eles, não haverá aqui crônica alguma e melhor
seria passarmos logo ao almoço.
Tudo é relativo, dizíamos
Einstein e eu. Vejam só: minhas mãos, por exemplo. Não é preciso ser versado em
ciências biológicas ou anatômicas, muito menos possuir dons detetivescos de
observação especial, para detectar, a partir de uma rápida olhada sobre elas,
que tratam-se de mãos que jamais pegaram no cabo de uma enxada. Sim, minhas
mãos são aquelas típicas mãos-de-fada, expressão de cunho pejorativo utilizada
especialmente na roça e na colônia para fazer referência aos primos da cidade
(eu sempre fui um primo da cidade, mesmo jamais tendo tido primos que morassem
na colônia), que chegam com aquelas mãozinhas fininhas, branquinhas, lisinhas,
desprovidas de calos e de arranhões, que jamais foram cortadas por arame
farpado, jamais foram furadas por espinhos e rosetas, jamais colheram urtiga ou
engoliram farpas de lenha.
Minhas mãos são dessas mãos de
moça, mãos de donzela, imaculadas, alvas, polvilhadas com dedinhos babacas que
tremem ao empunhar um martelo e ficam com cara de samambaia se lhe metem por
cima um serrote ou uma chave-de-fenda. Mãos de pianista sem nunca terem
dedilhado um piano; mãos de tricoteira sem saberem reger uma agulha; mãos de
vidro, de cristal, de açúcar; mãos que abrem o berreiro se um palito de fósforo
lhes queima a ponta do dedo, sim, são assim minhas mãos, admito.
Mas como tudo na vida é relativo,
eis que surgem finalmente os ipads e os smartphones, com suas câmeras
fotográficas digitais e seus botõezinhos milimétricos, criados especificamente
para proporcionar a redenção da masculinidade de meus dedos. Sim, ao pegar um
desses aparelhos e tentar bater uma foto, meus dedinhos viram dedões
destroncados, apertando os lugares errados e teclando tudo junto ao mesmo
tempo, atabalhoadamente. Finalmente consigo ser pelas mãos o troglodita que a
relatividade há tanto tempo esperava de mim.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de julho de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário