quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Cada um na sua ilha

Vamos lá: já que você se botou a ler isto aqui, não importa se avisada ou desavisadamente, agora está sob meu poder, e vai ter de vir comigo até o ponto final. Se quiser, ainda há tempo de desistir e virar a página ou clicar em outra tela, mas agora foi, capturei, venha. Imagine-se em uma ilha. Não importa o tamanho da ilha, valem as de todos os tipos: grandes ou pequenas, habitadas ou desertas, com coqueiros e macaquinhos ou urbanizadas. Uma ilha, ponto. Você está lá, e está cercado de água por todos os lados. Seus vizinhos são as ondas, os tubarões, as algas, os navios que cruzam ao longe, o horizonte que circunda toda a área e faz você ficar desconfiando de que a Terra pode mesmo ser redonda. Uma ilha.
Você nasceu nela ou foi parar lá de alguma maneira, tanto faz, isso você mesmo pode decidir (há certas liberdades que concedo às minhas momentâneas presas literárias, como o estimado leitor e a querida leitora). E vamos ao ponto: você está lá, na ilha, e o que você faz dessa situação? Qual a sua atitude? Vejamos as opções. Se te chamares (vistes, alteramos a forma de tratamento para o “tu”, assim, no mais; coisas de liberdade narrativa de que nós, cronistas mundanos, costumamos nos apropriar) – se te chamares Ernesto ou Camilo, podes decidir fazer uma revolução; se fores um pirata do Caribe, podes enterrar nela um tesouro; se a tua ilha é no Havaí, podes inventar um novo estilo de surfar e alcançar a fama internacional; se fores moça, descolada e imaginativa, podes criar um novo estilo de biquíni; se fores o Tom Hanks, podes aprofundar os laços de amizade com bolas de vôlei da marca Wilson; se te chamares Robinson, podes zanzar de um lado a outro na ilha durante anos e anos e anotar tudo o que não lhe acontece, na expectativa de te tornares escritor famoso; se estiveres em uma ilha japonesa, podes criar uma nova receita de sushi; se aportares na Ilha do Diabo, podes gestar um plano e protagonizar uma fuga espetacular que depois vai virar filme; se fores Morel, na ilha te apaixonarás; se fores Moreau, na ilha criarás horrores.

As opções, como os amigos leitores e as amigas leitoras viram (abandonamos “tu” e “vós”, assim, sem mais), são infinitas. Cabe a você decidir que destino dar à sua estada em sua ilha. Morrer de tédio é opção só para os de alma pequena.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de agosto de 2015)

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