Vamos lá: já que você se botou a
ler isto aqui, não importa se avisada ou desavisadamente, agora está sob meu
poder, e vai ter de vir comigo até o ponto final. Se quiser, ainda há tempo de
desistir e virar a página ou clicar em outra tela, mas agora foi, capturei, venha.
Imagine-se em uma ilha. Não importa o tamanho da ilha, valem as de todos os
tipos: grandes ou pequenas, habitadas ou desertas, com coqueiros e macaquinhos
ou urbanizadas. Uma ilha, ponto. Você está lá, e está cercado de água por todos
os lados. Seus vizinhos são as ondas, os tubarões, as algas, os navios que
cruzam ao longe, o horizonte que circunda toda a área e faz você ficar desconfiando
de que a Terra pode mesmo ser redonda. Uma ilha.
Você nasceu nela ou foi parar lá
de alguma maneira, tanto faz, isso você mesmo pode decidir (há certas
liberdades que concedo às minhas momentâneas presas literárias, como o estimado
leitor e a querida leitora). E vamos ao ponto: você está lá, na ilha, e o que
você faz dessa situação? Qual a sua atitude? Vejamos as opções. Se te chamares (vistes,
alteramos a forma de tratamento para o “tu”, assim, no mais; coisas de
liberdade narrativa de que nós, cronistas mundanos, costumamos nos apropriar) –
se te chamares Ernesto ou Camilo, podes decidir fazer uma revolução; se fores
um pirata do Caribe, podes enterrar nela um tesouro; se a tua ilha é no Havaí,
podes inventar um novo estilo de surfar e alcançar a fama internacional; se
fores moça, descolada e imaginativa, podes criar um novo estilo de biquíni; se
fores o Tom Hanks, podes aprofundar os laços de amizade com bolas de vôlei da
marca Wilson; se te chamares Robinson, podes zanzar de um lado a outro na ilha
durante anos e anos e anotar tudo o que não lhe acontece, na expectativa de te
tornares escritor famoso; se estiveres em uma ilha japonesa, podes criar uma
nova receita de sushi; se aportares na Ilha do Diabo, podes gestar um plano e
protagonizar uma fuga espetacular que depois vai virar filme; se fores Morel,
na ilha te apaixonarás; se fores Moreau, na ilha criarás horrores.
As opções, como os amigos
leitores e as amigas leitoras viram (abandonamos “tu” e “vós”, assim, sem
mais), são infinitas. Cabe a você decidir que destino dar à sua estada em sua
ilha. Morrer de tédio é opção só para os de alma pequena.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de agosto de 2015)
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