O principal problema que faz com
que o trânsito nas cidades e nas estradas brasileiras seja um caos absoluto,
cenário para estresses, acidentes, mortes e perigos diversos, vai muito além de
questões estruturais. O principal problema não são os buracos e a má
conservação das rodovias, ruas e estradas, apesar de esse quesito ser crucial e
importante. O principal problema não é a infraestrutura antiquada e
ineficiente. O principal problema não é a má sinalização e tampouco o excesso
de veículos, a quase inexistência de meios de transporte alternativos (metrôs,
trens, barcos, camelos...). Nada disso.
O principal problema são as
gentes, as pessoas, os motoristas brasileiros que se sentam atrás dos volantes
e ligam seus veículos prontos para a guerra. Armam os espíritos como se fossem
enfrentar batalhas e, a partir dessa premissa, encaram todos os demais veículos
ao redor como inimigos a serem destruídos, vencidos, batidos, subjugados,
eliminados. O principal problema é a imaturidade psíquica do povo brasileiro
como um todo, que transforma cada pseudocidadão pseudomotorista em um
adolescente imaturo, impulsivo, inconsequente, agressivo, idiotizado,
competitivo e inumano, a cada esquina, a cada cruzamento, a cada semáforo. Uma
horda de bárbaros motorizados que fazem do trânsito uma selva canibalesca,
burra e destrutiva. Em nome da pressa.
O problema é que nós,
brasileirinhos, não conseguimos aceitar o trânsito que existe em nossas cidades
e em nossas rodovias. Não conseguimos encarar de forma madura as deficiências estruturais
que existem e que, por si só, tornam perigoso o transitar. A isso, agregamos
nossa perigosa imaturidade, que prefere fazer de conta que o trânsito
superpopulacionado simplesmente não deveria estar ali, daí a ansiedade, a
pressa, a descortesia, a brucutice, a incivilidade. Falta percepção, falta
lucidez, falta capacidade de lidar com o cenário de forma madura. Há problemas?
Sim. Mas isso não nos credencia a sermos, cada um, um problema a mais.
Há muitos carros nas ruas.
Muitos ônibus, muitos caminhões, motocicletas... Perceba, compreenda e aja de
acordo. Deixe o nervosismo e a típica prepotência egoística subdesenvolvida e
terceiro-mundista pra lá, e tente evocar um pingo de civilização dentro de você
ao volante. O mundo ao seu redor pode ficar bem melhor a partir de seus
próprios atos. Melhor para você mesmo, para começo de conversa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de agosto de 2015)
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