Leio na internet que o perfume
mais caro do mundo custa o equivalente a R$ 770 mil. E, não, madame, não se
trata de uma pipa de perfume por esse valor astronômico, não: a senhora terá de
desembolsar essa fortuninha se desejar levar para a penteadeira de seu quarto
apenas um frasquinho contendo 500 ml do produto. Quase um milhão de reais por
meio litro de perfume, o que a senhora acha disso? Compraria?
Como é, madame? Sugere que eu, o
cronista mundano mais desconhecido da Serra, encomende um exemplar e o presenteie
à senhora? Não, madame, impossível. E não que a senhora não merecesse umedecer
seu delineado pescoço, seu suave colo e os estratégicos pontos atrás das
orelhas com a inebriante fragrância, nada disso, não me entenda mal. É que
minhas posses não alcançam tamanhas galhardias. Ah, sim, se eu pudesse,
certamente que o faria, madame, quanto a isso, pode ficar tranquila, sou um
cavalheiro plenamente imbuído das melhores intenções. Disso, tenho o frasco
cheio, se é que me permite a pequena brincadeira. Mas voltemos ao frasco. Quer
dizer, ao foco.
O tal perfume, então, esse que
custa setecentos e lá vai pedrada. Ele pertence à marca italiana Bulgari e foi
batizado de “Ópera Prima”. A matéria nos informa também, madame, já que a
senhora segue acompanhando aqui o desenrolar da coisa, a matéria nos informa
que o tal perfume foi desenvolvido “com notas cítricas e florais leves”, sendo
classificado como “diurno, remetendo à atmosfera mediterrânea, aos limões
sicilianos e à Costa Amalfitana”. A senhora já pensou em sair flanando diurnamente
pela aí com o pescoço a exalar notas florais leves e inebriando a atmosfera ao
redor como se fosse um limão siciliano desgarrado pela Costa Amalfitana? Como,
senhora? O que é a Costa Amalfitana? Também não sei, depois olhamos na
enciclopédia. Ah, no Google, claro; “enciclopédia” foi força do hábito.
Mas, daí, senhora, olha só, tem
mais. O vidrinho do perfume foi moldado com 250 quilates de citrino, 45
quilates de ametistas e vem com 25 quilates de diamantes encravados. E ainda é
todo folheado a ouro. Ahhhh bomm! Agora, sim, estão explicados os R$ 770 mil! Como
podemos ver, há casos em que a casca externa vale muito mais do que o conteúdo!
A senhora viu só como são as coisas? Mais vale o vidrinho pendurado em seu
pescoço a título de colar do que a fragrância em si, contida nele. Isso sim, pra
mim, é desaforo!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de agosto de 2015)
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