Você vai a um espetáculo de
dança e sai de lá plenamente encantado com a leveza dos bailarinos, com a
sincronia dos gestos em relação à música. Você vai a uma peça de teatro e sai
de lá apaixonado pela atuação dos atores, pelo ritmo das cenas conduzidas pelo
diretor, pela qualidade dos cenários. Você vai a uma galeria de arte e sai de
lá hipnotizado pelo toque de gênio do artista, que retrata o mundo e as
sensações com formas e cores nas telas. Você lê um bom livro e aplaude o
escritor; escuta uma música magistral e endeusa o músico e o letrista; saboreia
um bom vinho e tece loas ao enólogo; desfruta um manjar dos deuses e quer
abraçar o chef.
Você é generoso em elogios
sempre que se vê bem servido em termos de qualidade absoluta, em todas as áreas
de atuação humana. E isso é muito bacana de sua parte. Mas, como nem tudo é
perfeito, você comete um erro de avaliação, quase sempre, ao julgar que é tão
fácil fazer essas coisas todas, tão belas e perfeitas, que até você seria capaz
de igualá-las. E é aí que mora o perigo. As aparências enganam, e isso é um dos
atributos essenciais de tudo aquilo que é aparente. Tudo aquilo que soa
perfeito aos nossos olhos, realizado pelos outros, parece estar sendo feito com
extrema facilidade e, por isso, soa como passível de ser igualado. Ledo engano.
A perfeição dos gestos do
artista, dos textos do escritor, da sonoridade da música, dos sabores dos
pratos e de tudo o mais, que acaba soando tão simples, decorre de um grande e
essencial segredo: o trabalho árduo, a dedicação e o supremo esforço. Só assim
o artista e o especialista conseguem realizar com aparente facilidade aquilo
que acaba soando belo e perfeito. Faça um teste. Vá a um restaurante de sua
preferência e peça aquele maravilhoso filé ao molho madeira, que você tanto aprecia.
Depois, vá para casa e, no dia seguinte, tente fazer em sua cozinha um prato
igual. Será que vai conseguir? Você sabe as manhas para obter um filé suculento
mas não cru, frito mas não sola-de-sapato, saboroso mas não salgado demais?
Em todas as atividades existem
os truques e a perfeição só é alcançada depois de muito treino e suor. É por
isso que o artista é artista e o público aplaude. Se não podemos ser artistas,
que saibamos exercer com perfeição a arte de aplaudirmos quem de fato o é. Eis
também aí uma arte.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de agosto de 2015)
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