Um ataque desferido à honra, à
imagem, à memória e ao talento de nossos ídolos exerce um poder devastador
dentro de nossas almas igual, ou talvez até superior, a um ataque lançado
diretamente contra nós mesmos. Isso porque uma agressão, uma calúnia, uma
ofensa, uma injúria, um perjúrio, uma difamação, uma ignomínia, uma infâmia,
uma deslealdade, uma traição, uma ofensa, uma mentira, a gente tira de letra e
parte direto ao contra-ataque, às vezes na mesma intensidade, ou, em vezes mais
raras (porque daí depende de maturidade), opta-se pelo mais sepulcral silêncio,
deixando as pedras repicarem no vazio, ecoando na baixeza das almas de quem
ataca.
Mas não, não sofri nenhum
ataque, apresso-me logo em esclarecer para não deixar dúvidas, e se estou
esclarecendo é porque obviamente desejo eliminar eventuais dúvidas, que é o que
costumeiramente se pretende quando se esclarece, só para deixar tudo bem claro.
E tampouco nenhum de meus ídolos andou sofrendo injustos ataques ultimamente,
ao menos, não que me tenha chegado ao conhecimento, impossível monitorar tudo,
afinal, meus ídolos são muitos, de nacionalidades variadas, alguns vivos,
outros mortos, e pertencentes a esferas diversas da atuação humana. “Mas,
então, o que é que há, velhinho?” - pergunta-me (e pergunta-se) o estimado
leitor, a querida leitora.
O que há é que vezes há em que
fico aqui, no silêncio dos turbilhões internos de minha mente, remoendo ataques
antigos desferidos contra ídolos meus sem que eu estivesse lá para defendê-los,
e ponho-me a contra-argumentar mentalmente, fazendo terra arrasada das
pequenezas que tentaram apequenar a grandeza desses grandes. “As obras de
Shakespeare não foram escritas por ele”? Ora, pois, essa agora... “Rubem Braga,
Sérgio Porto e outros cronistas legaram uma literatura menor”? Ah, francamente!
“A música dos Beatles é banal”? Aham, me poupem... Atacar meus ídolos é atacar
a mim mesmo. Defendê-los é obrigação minha, mesmo que em discurso mental, a fim
de resguardar minha própria essência e plenificar aquilo que sou frente a meus
próprios olhos. Não mexam com minha turma, que parto para o discurso mental.
Dentro de mim, meus ídolos repousam plenamente justificados.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de agosto de 2015)
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