Comecei a ler um livro de ficção-científica
intitulado “Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?”, escrito por um dos
grandes papas literários do gênero, o norte-americano Philip K. Dick (1928 –
1982). Sempre tive curiosidade de ler a obra, especialmente pelo fato de ter
sido ela a inspiração a partir da qual o cineasta Ridley Scott teceu o
argumento para a produção de um cult cinematográfico do século passado, “Blade
Runner – O Caçador de Androides” (1982), estrelado por Harrison Ford.
O livro foi escrito em 1968 e a
história é ambientada no então futurístico, longínquo e distante ano de 1992,
quando a Terra já foi chacoalhada por uma devastadora Terceira Guerra Mundial
que espalhou uma inesperada poeira radioativa e esterilizante sobre todo o
planeta, obrigando a maioria dos sobreviventes a migrarem para planetas vizinhos,
colonizando-os. Quem preferiu ficar na Terra, ralou-se, mas, mesmo assim,
muitos decidiram permanecer, incluindo o herói da saga: Rick Deckard (Harrison
Ford, no cinema), o caçador de androides.
O serviço de Deckard é
exatamente este: caçar, identificar e eliminar os androides que desgarram de
Marte e vêm se misturar com os humanos que ficaram na Terra. Como são quase
perfeitos, os robôs são difíceis de identificar, pois agem como humanos, sentem
como humanos, falam como humanos, amam e odeiam como humanos, e aí é que reside
a graça da história toda, tanto nas telas quanto nas páginas. Tudo muito bem,
mas o que me chamou a atenção, já no início do livro, foi a permanência de uma
situação típica dos anos 1960 que o autor não conseguiu superar em sua aventura
imaginária de criar um mundo futuro.
O personagem liga a televisão e
fica pensando na vida enquanto aguarda a válvula do aparelho esquentar para
trazer-lhe o som e a imagem. Philip K. Dick conseguiu imaginar um futuro
mirabolante em que os seres humanos habitam Marte e possuem androides
racionais, porém, não conseguiu fazer evoluir seus televisores de tubos com
válvulas para nada sequer similar às telas planas de plasma com trocentas
polegadas que possuímos hoje. Óbvio que o mérito da obra de Dick reside muito
além desses pequenos penduricalhos cênicos que soam estranhos aos olhos de quem
sobreviveu a 1992. O que fica, na verdade, é o alerta de que somos realmente
incapazes de prever com exatidão o que o futuro nos reserva. Até porque, somos
nós mesmos quem o moldamos, à nossa própria imagem.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de agosto de 2015)
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