A técnica escolhida para tecer o
início da crônica de hoje é o conhecido “Estilo Matrioska”. Bom, talvez ainda
não tão conhecido assim, porque eu acabei de inventá-lo, mas, dependendo do
sucesso alcançado entre os leitores, haverá de ficar conhecido, portanto, já me
antecipo à colheita dos futuros louros. E, para variar, já me perdi em meio a
tergiversações intercaladas e terei de protelar a aplicação do “Estilo Matrioska
de Abertura de Crônicas” para o parágrafo seguinte. A ele!
Ah, antes, urge explicar o
significado do termo “Matrioska”, para que não pensem que, além de inventar
técnicas revolucionárias de abertura de crônicas, pus-me agora a também criar
neologismos. As Matrioskas são aquelas bonequinhas russas, usualmente feitas em
madeira, representando matronas em diversos tamanhos, que vão encaixando umas dentro
das outras, a menor dentro da ligeiramente maior e assim por diante, até
estarem todas inseridas dentro da Matrioskona-mor, em uma simpática
representação da fertilidade feminina e da sucessão das gerações. Isso são as Matrioskas.
Já o afamado “Estilo Matrioska de Abertura de Crônicas” fica protelado ao
terceiro parágrafo. Agora sim, a ele!
Lá em casa, há uma cozinha. Na
cozinha, existe um armário. Dentro desse armário, um dos gavetões foi destinado
a abrigar os potes de plástico (eis o “Estilo Matrioska” de redação: a cozinha,
dentro da cozinha o armário, dentro do armário a gaveta, dentro da gaveta, os
potes... genial! E poderíamos avançar para as duas pontas: a casa é um
apartamento que está dentro de um prédio... e os potes, alguns maiores abrigam
outros menores... infinitas composições! Palmas, palmas, obrigado, obrigado... Ei,
eu disse “palmas”, e não “palmadas”, calma, calma). Pois a crônica seria
desenrolada a partir desse aspecto, o da esculhambação que se desenrola dentro
do dito gavetão entre os potes, que fazem festas secretas noturnas quando
ninguém está observando e se acotovelam lá dentro, às vezes impedindo que se
abra o gavetão e, outras vezes, impedindo que seja fechado.
Coube a mim, no final de semana,
a tarefa de organizar o gavetão dos potes de plástico. Tentei. Não consegui. Eu
sou uma Matrioska ao contrário: dentro de meu corpo há um cérebro, dentro de
meu cérebro não há nada... Ficamos sem crônica e gastei o novo estilo por nada.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de agosto de 2015)
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