Tenho, cá para mim, que uma das
maiores invenções da humanidade, derivada do aprimoramento e do refinamento do
espírito humano, é a metáfora. Sim, eu sei, existem outras invenções práticas
também muito importantes que poderiam ser elencadas aqui, neste espaço
privilegiado, como a aspirina, que alivia dores da cabeça ao cotovelo; a
anestesia, que poupa dentistas de terem de correr quadras e quadras atrás de
pacientes pusilânimes; o controle-remoto da tevê, que exercita a paciência de
nossos cônjuges; a polenta, que pode ser plantada em qualquer tipo de solo e requer
manejo mínimo para vingar, florescer forte e viçosa e aliviar a fome
intermitente que assola os habitantes de regiões como essa nossa; o
liquidificador, o lençol térmico, o leite condensado, o radiorrelógio, o corretor
automático de testo, digo, de texto (estava esquecendo de aplicar o dito-cujo)
e tantas outras que mereceriam, sim, uma longa, inspirada e laudatória crônica,
mas hoje falaremos de metáforas.
Falaremos de metáforas porque
elas vão representar aqui, nestas mal-digitadas linhas, o valor das invenções
intangíveis, aquelas criações da mente humana que operam dentro dos limites
ilimitados do espírito humano, diferentemente das invenções tangíveis e
práticas que revolucionam o ato físico de viver, como a luz elétrica, o cotonete,
o automóvel e as lombadas eletrônicas, só para citar algumas. As metáforas têm
o poder e a função de ampliar, sem quaisquer amarras, a capacidade de
compreensão humana da existência, de tudo aquilo que envolve, cerca e define o
ato de existir, de observar a existência e de protagonizá-la. As metáforas
conferem asas metafóricas (vejam, um pleonasmo!), libertam os grilhões que
afundam nossos pés no cimento urbano, subjugam as âncoras que teimam em afundar
na aridez da realidade e permitem o rompimento dos limites da significação da
vida.
As metáforas são as parteiras
das parábolas, das fábulas, dos mitos, dos ditados populares, das piadas, das
comparações, das entrelinhas, dos subtextos, dos subentendidos, do humor, da
ironia, das artes e da criatividade. As metáforas nos permitem cheirar com os
olhos, escutar com os dedos, olhar com a alma, sorrir com os ombros, tocar com
os ouvidos, entender com o coração, falar com o silêncio, dizer desdizendo,
subentender o não-dito e inebriar-se de estética.
Só não me perguntem o que eu
quis dizer com isso tudo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de agosto de 2015)
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