Agora, sim, me caíram os butiás
do bolso. Descobri, vejam só, que sou mais bonito do que inteligente! E isso
que passei a vida inteira apostando as minhas fichas na equação inversa. Não
que eu tenha de repente acordado transformado em um Brad Pitt, nada disso.
Continuo tão kafkianamente feio quanto sempre, nada mudou, a não ser a
descoberta de que minha inteligência não é suficiente para compensar meu
visual, que já é pobrinho. Vivia convicto de que meu maior valor pessoal
advinha dos frutos do uso de minhas palavras, e não da minha imagem. Mastodôntico
engano!
A prova veio esta semana, quando
decidi alterar a foto de meu perfil em uma rede social. Sim, aquela rede social
que você está pensando, que os veículos de comunicação denominam “rede social”
sem dizer o nome, mas que todos sabem qual é. Já faz algumas semanas que
comecei a postar na dita rede social as crônicas que cometo diariamente neste
espaço no jornal Pioneiro, e venho monitorando o número de curtidas que elas
angariam. Uns dias há mais, outros dias, menos, mas o número já se estabilizou,
dá para tirar uma base, sabe como é? Bueno. Mas aí, dia desses, inventei de
trocar minha fotinho lá do perfil. Pra quê!
O número de curtidas em minha
foto superou em seis vezes o total de curtidas na crônica postada no mesmo dia,
horas antes. O que significa que minha legião de amigos e seguidores aprecia
mais meu visual fotográfico do que as profundas, elegantes, inspiradas,
surpreendentes e esforçadas crônicas que tão modesta e dedicadamente produzo. E
isso que a foto não tem nada de mais, sou apenas eu defronte a um ponto
turístico afamado no planeta inteiro. Só isso.
Mas agora é tarde para eu
remodelar minha trajetória de vida pensando em tirar proveito dessa minha recém
descoberta fotogeneidade. Tarde demais para seguir a carreira de modelo; para
entrar no BBB; para disputar concursos de beleza (até porque, esses certames estão
cada vez mais apostando na inteligência dos candidatos e, como acabamos de
verificar, é bem nesse quesito que ando pecando). Mas nem tudo está perdido.
Semana que vem, me reunirei com o editor-chefe do Pioneiro, o Márcio Serafini,
e vou sugerir parar de preencher este espaço aqui com textos e passar a
publicar somente fotos minhas. Garanto que alavancarei a tiragem!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de agosto de 2015)
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