Parece que não tem mesmo volta:
em termos de trânsito, o que o futuro nos reserva são os veículos que dirigem
sozinhos. A tecnologia necessária para a produção de automóveis que dispensam a
ação dos motoristas humanos ao volante já existe. Porém, os empecilhos para sua
imediata implantação são os de sempre: alto custo e falta de infraestrutura
adequada que permita a iteração segura do carro-robô com o ambiente (leia-se as
estradas, as ruas, a sinalização, essas coisas).
Mesmo assim, fiquei extasiado
dia desses, lendo uma extensa reportagem sobre o assunto, focada nos testes
reais que empresas, universidades e montadoras andam realizando nesse sentido
ao redor do mundo. Parecia obra de ficção-científica, mas, como sabe-se muito
bem desde Leonardo da Vinci e de Jules Verne, o sonho é o primeiro passo para a
concretização de maravilhas. Ao que tudo indica, nossos netos e bisnetos
vivenciarão experiências bem mais interessantes do que as nossas ao volante dos
veículos que os aguardam no futuro próximo. Vai ser possível simplesmente
entrar no carro, ordenar ao computador de bordo o destino e, ao longo do
trajeto, ocupar os olhos, as mãos, os pés e a mente em atividades diversas como
ler um livro (livro, no futuro?), assistir a um filme, pintar as unhas e
retocar a maquiagem (sim, eu também penso nelas), preparar uma palestra, trocar
as fraldas do bebê, tirar um cochilo. Muitos fazem essas coisas hoje em dia ao
volante, infelizmente, mas não deveriam. Ainda não estamos no futuro. Nem nós,
nem nossos veículos, nem nossa (dita) consciência cidadã. Mas o amanhã bate à
porta, como sempre, e não engata marcha-a-ré.
Tomara que, junto com essa
tecnologia, consiga-se também varrer para o passado a sucessão de tristes
notícias referentes à carnificina do trânsito, decorrente da direção
irresponsável dos motoristas, das más-condições das estradas, das más-condições
dos veículos, dos descaminhos e malversações das verbas públicas, essas coisas
todas que, pelo jeito, não há futuro capaz de dar fim, infelizmente. Quem viver
para ver, corre o rico de testemunhar uma realidade brilhante dessas em plena
ação nos países desenvolvidos enquanto que, aqui, insistiremos em nos dedicar
ao subdesenvolvimento contumaz, asfaltado pela cultura do jeitinho e do cada um
por si, atolados perenemente na contramão da História. Veremos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de novembro de 2015)
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