Sempre que ficava impressionada
com alguma coisa (e muitas eram as coisas que a impressionavam), minha avó
materna colocava a delicada mão no queixo, balançava levemente a cabeça e
exclamava, com seu quase imperceptível sotaque de descendente de imigrantes
alemães: “nom, nom, nom: nom tem explicação”! Dizia isso especialmente quando
assistia a notícias terríveis pelos noticiários da televisão ou quando escutava
alguma história espantosa contada por algum familiar, alguma amiga, algum
vizinho. As injustiças do mundo, a crueldade e as malvadezas cometidas pela
espécie humana deixavam-na perplexa e, aí, repetia o mantra, enquanto refletia
sobre as motivações da alma humana.
Mas também utilizava a
exclamação, com menos frequência, quando era brindada com algum relato
engraçado, surpreendente ou misterioso. Afinal, a dificuldade em encontrar
explicações plausíveis para os fenômenos do mundo, humanos ou naturais, é
infinita. Mas mais infinita ainda era a capacidade de minha avó de se espantar
com tudo aquilo que fosse, digamos, espantoso. E convenhamos, eita espantoso
mundinho este em que vivemos, não é, hein?
Pois eis que fico aqui a
recordar de minha avó neste momento em que me quedo espantado com essa
interessante coincidência da mega-sena acumulada aí pela décima vez em
sequência agora no final deste ano. Que coisa engraçada isso, até parece ser
sazonal. Basta chegar o final do ano que a mega-sena acumula, e acumula, e
acumula e acumula de novo, gerando um prêmio astronômico, a brindar, lá
adiante, um hiper-super-mega-sortudo que vai passar o rastel na granaiada toda.
Aconteceu ano passado, também. E no anterior. Chega o final do ano e pá:
acumula-se doidamente a mega-sena. Ninguém acerta os numerozinhos e o prêmio se
bandeia para as estratosferas. Mas o que é que há? Os brasileiros perdem a
capacidade de acertar os números da mega-sena nos meses de novembro e dezembro?
Eis um bom motivo para uma pesquisa científica sobre comportamento, ou sobre a
matemática das probabilidades, ou algum estudo sociológico, ou alguma
investigação... Opa, investigação não, investigação não! Eu só falei em
pesquisas e estudos...
Mas esquece, nada a ver, deixa
assim. É que eu herdei da minha avó essa mania de me espantar com as coisas e
de querer explicação... Durmamos sossegados...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de novembro de 2015)
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