Vivemos em um mundo complexo, em
que o ritmo acelerado do cotidiano procura acompanhar a velocidade das
transformações sociais e tecnológicas, gerando estresse, correria, atropelos
(metafóricos e reais). Ansiedade, afobamento, angústia acabam se impondo e gerando
cansaço, prostração, frustração. Agenda lotada não é mais privilégio de altos
executivos, mas, sim, um aspecto comum à vida de todos, desde crianças até
idosos e aposentados. Quem foi que disse que 24 horas são suficientes para
vencer as tarefas de um dia? Precisamos de clones, urgente!
É devido a esse cenário de
exigências e superações diárias que procuramos criar e encontrar tábuas de
salvação, rituais que nos possibilitem gerar pequenos oásis particulares nos
quais reencontramos nossas essências, recarregamos as baterias físicas e
psíquicas para reafirmarmos nossa condição humana (e não robótica) frente a nós
mesmos. Procedimento vital e crucial para a manutenção ou recuperação da
sanidade a fim de, claro, darmos sequência às demandas que já vão se acumulando
de novo. É quando entram em cena os chamados “pequenos prazeres”. Em uma
sociedade superlativa, em que o excesso vira sinônimo de prosperidade, pujança
e felicidade questionável, vamos redescobrindo aos poucos o potencial de
prazeres existentes nas chamadas pequenas coisas da vida, percebendo que atos
singelos como dormir até mais tarde no final de semana ou servir o café da
manhã na cama à cara-metade, surpreendendo-a, possuem um valor inestimável.
E estamos certos nisso. Só falta
agora avançarmos um pouquinho, darmos o passo além, que também se faz
necessário. Ao lado da (re)descoberta dos pequenos prazeres, que nos reumanizam
individualmente, está na hora de nos dedicarmos um pouquinho também à prática
das pequenas gentilezas cotidianas, atitudes que provocarão nossa reumanização
coletiva, nos aproximando da essência do conceito de “sociedade civilizada”. O
cumprimento ao vizinho no elevador, segurar a porta do estabelecimento para
quem vem chegando, dar a vez ao outro no trânsito, parar frente à faixa de
segurança, elogiar alguém pelo simples fato de apreciar esta pessoa, dar um
presente por nada, reconhecer um erro, sorrir, agradecer, essas pequenas
coisinhas que, quando executadas, nos tornam não grandes e nem maiores, mas nos
colocam dentro da justa medida daquilo que somos, ou que deveríamos ser:
humanos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de novembro de 2015)
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