Mas, conforme atestam os
doutores em Língua Portuguesa, é equivocado iniciar uma oração com a palavra
“porém”, porém, “porém” pode (e deve) ser utilizado somente no meio das mesmas,
conforme fi-lo aqui nesta que abre esta crônica, na tentativa de fazê-lo certo,
porque, de outra forma, iniciando esta com “porém”, entraria já no texto e na
vida do estimado leitor e da amada leitora com o pé esquerdo, e eis que aqui
surge uma metáfora porque é sabido que, por mais mundano que seja, o cronista
não utiliza os pés para a produção destas linhas, mas, sim, as extremidades
superiores, nas quais se espalham os dez dedos que dedilham o teclado na
composição de parágrafos de tirar o fôlego até de leitores preparados e
treinados na leitura de orações insubordinadas como a que finalmente agora
chega ao final, sob pena de debandada geral, desmaios e ameaças de agressão
física ao autor. Desculpo-me.
Aprendi que não se usa “porém”
na abertura de uma oração (salvo as exceções de praxe, porque, o que seria da
Língua Portuguesa se não fossem as exceções de praxe, hein?) lendo um livro do
professor, jornalista e ensaísta gaúcho José Hildebrando Dacanal, uma sumidade
em questões gramaticais (entre outras). O livro intitula-se “Manual de
Pontuação – Teoria e Prática”, no qual o autor discorre sobre conceitos e
regras gerais relativos à arte e ao ofício de bem escrever (um cronista que se
pretende mundano precisa estar em constante processo de formação). Paralelamente
aos conceitos, aos exemplos práticos e aos exercícios propostos, Dacanal vai
brindando o leitor com pertinazes reflexões a respeito da degenerescência que
detecta na qualidade da escrita verificável hoje em livros, jornais, revistas e
outros impressos.
Afirma ele que a queda da
qualidade da escrita no Brasil é um dos mais significativos sinais do processo
de decadência da sociedade como um todo. Essa decadência, segundo ele, pode ser
comprovada pelo crescimento das desigualdades sociais, da miséria, do crime e
pelo afrouxamento das regras de convivência social e de comportamento moral.
Finaliza: “...se todas as normas e todos os limites parecem ter sido abolidos e
a desordem e a barbárie avançam incontidas, que importância podem ter as velhas
regras do bem falar, do bem escrever e do bem pontuar”? Pois é. Nunca antes
saber aplicar corretamente o “porém” foi tão significativo e relevante.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de novembro de 2015)
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