Costumamos afirmar que, para
combater e driblar a crise, precisamos usar a criatividade, precisamos ser
ousados e imaginativos. É o que aprendemos acompanhando as opiniões de editores
e colunistas de Economia nos vídeos dos sites e nas páginas que produzem nos
jornais (e eu leio essas páginas e assisto a esses vídeos, acreditem). Existe
até um bordãozinho impresso que alguns estabelecimentos pregam nas paredes de
seus negócios, nos quais arrancam a letra “s” da palavra “crise” para formar a
palavra “crie”, o que, por si só, já é muitíssimo criativo, admitam. Mas tudo
tem um limite, até mesmo a criatividade em tempos de crise precisa seguir
certos padrões de lógica e bom senso, e é muito bom que seja assim porque, se
assim não fosse, não haveria crônica.
Esse dito limite andou sendo
ultrapassado esses dias, por exemplo, lá no outro lado do mundo, mais
precisamente na província de Hubei (ah, tá), na China. O protagonista foi um
chinês (claro) criador de gansos que, vendo-se num aperto financeiro terrível,
desprovido de grana para fretar um caminhão, mas precisando urgentemente
transportar 1,3 mil (isso mesmo, mil e trezentos) gansos de um lado para o
outro, não pensou duas vezes em meter-se a pé na estrada conduzindo por terra a
gansaiada toda, em uma rodovia movimentadíssima. As fotos e o vídeo estão na
internet, para provar, e a cena é incrível: mil e trezentos gansinhos andando
ordenadamente em um lado da rodovia enquanto os veículos cruzam a mil pelo
outro lado.
A polícia rodoviária foi chamada
para colocar ordem naquilo e evitar que houvesse um atropelamento de gansos, o
que seria uma pena (muitas penas, na verdade, muitíssimas penas), colocando
cones na pista e ajudando o criador de gansos a levar seus animais ao destino,
incólumes. Afinal, ninguém queria ver ao vivo ganso virar patê no asfalto. Tudo
indica que a história acabou bem para os 1.301 indivíduos envolvidos (os gansos
e o criador), mas, convenhamos, o chinês aí confundiu criatividade e ousadia
com absoluta falta de noção ao arriscar os pescoços dos gansos e dos motoristas
(apesar de chamar a atenção a disciplina dos gansos, o que ainda muito me
intriga).
Moral da crônica: inércia é
ruim; criatividade é bom; bom senso é melhor ainda. E patê de ganso só é bom
devidamente enlatado.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de novembro de 2015)
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