Eu ia começar esta crônica com o
já batido jargão “é batata”, mas preferi não fazê-lo para não soar repetitivo
(o que seria catastrófico) ou desinspirado (o que seria pior do que
catastrófico... hecatômbico!?) frente aos meus fiéis e perseverantes leitores,
aos quais sempre procuro causar uma boa impressão, em se tratando de letras
primordialmente impressas. Mas mesmo não o fazendo, não tem como camuflar, pois
que é batata, isso lá é, sim, fazer o quê? É batata, e ponto!
Sim, madame, já vou explicar, a
senhora sabe que eu sempre acabo explicando (mesmo que, nem sempre,
convencendo, mas isso faz parte do jogo e é o que, no final das contas, confere
a graça para a coisa toda). O que é batata é que sempre, invariavelmente, via
de regra e todas as vezes, quem faz a melhor escolha é ela. Como assim, “ela
quem”? A senhora sabe: ela! Ela, a minha esposa! Quem mais seria? Sim, ela é
quem detém o poder de sair-se melhor quando a questão que se coloca à nossa
frente é escolher. E lá vai ela, e cá fico eu, a ver navios e a remoer minha
invariável e recorrente incapacidade de escolha. Batata pura!
Basta chegar o cardápio no
restaurante, por exemplo, que pimba! Ela escolhe a opção do jantar empratado
mais saborosa. Mais saborosa do que a minha escolha, lógico. Fico lá eu, remando
com o garfo no meu espaguete à bolonhesa e ela se lambuzando com o risoto ao
funghi que espertamente pediu! Eu adoro espaguete à bolonhesa, mas o risoto ao
funghi dela me olha com uma cara tão saborosa... E na lancheria! O xis-completo
dela obviamente será superior ao meu xis-filé de sempre! Na cafeteria, o
capuccino dela, vê-se de longe, é notadamente superior ao meu expresso duplo. No
boteco, o suco de frutas vermelhas dela parece mil vezes mais encantador do que
o meu de uva branca (ou branco?). A sobremesa que ela escolhe é melhor do que a
minha. A entrada, também. E o primeiro prato, e o segundo, e a guarnição.
Como é, madame? A senhora sugere
que eu peça sempre o mesmo que ela? Já tentei, amiga, já tentei. Não adianta,
acredite, o prato dela sempre vem melhor do que o meu. Se pedimos sopa de
capeletti, os capelettis do prato dela estão mais saborosos do que os que nadam
no meu. É assim, não tem jeito. A única coisa que me redime e consola é saber
que, pelo menos, ela escolheu a mim...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de novembro de 2015)
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