quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lupas a perigo

Sempre fico triste quando o tema em pauta é “profissões em vias de extinção”. Pensar no possível desaparecimento dos alfaiates, por exemplo, é algo que me mete em uma nostalgia profunda, mesmo tendo conhecido poucos alfaiates e raramente ter necessitado dos préstimos deles. Os sapateiros vão rareando porque o pessoal tem optado por comprar sapato novo e meter fora aquele no qual um preguinho bem pregado, uma colinha na sola e uma lustrada, poderiam deixá-lo como novo e pronto para nos acompanhar por outras várias milhas. Mesma coisa se dá em relação às costureiras, que saem de cena para dar lugar às estilistas de moda; e com os barbeiros, que bravamente ainda resistem ao avanço dos cabeleireiros.
E nada contra cabeleireiros e estilistas de moda. Trata-se da evolução da sociedade, que vai se transformando e legando ao passado atividades como o picolezeiro, o engraxate, os homens da carrocinha (para a alegria da cachorrada), o tintureiro, o afiador de facas ambulante, as mulheres da Avon que batiam de porta em porta, o encadernador de livros, o fabricante de bolinhas de gude, o vendedor de carapinha.
Tudo isso me dá a tristeza da sensação de perda. De perda sociológica, humana, urbana, poética, não sei explicar direito. É quando me acorre à mente outra profissão que pode estar com os dias contados e poucos estão se dando por conta. Trata-se daquela exercida por figuras famosas, da vida real ou ficcional, como Hercules Poirot, Ed Mort, o Grande Polegar, Sherlock Holmes, Mickey Mouse, Inspetor Clouseau, Bechara Jalkh, Jules Maigret, Bustos Domecq, Kojak, Auguste Dupin, Salsicha, Scooby-Doo, Dick Tracy, Dupont & Dupond, as Panteras Sabrina Duncan, Kelly Garrett e Jill Munroe e tantos outros.
Para quem ainda não matou a elementar charada, trata-se dos detetives, meu caro leitor. São eles que estão com os dias contados, correndo o risco de se tornarem obsoletos, com seus préstimos inúteis, em função do assentamento das tais redes sociais no cotidiano das pessoas. Quer saber onde anda fulano? O que ele anda fazendo? Com quem se relaciona? O que pensa? O que come? Aonde vai no verão? Para que um detetive? Basta uma conexão minimamente boa, um perfil na rede e um clique no mouse. Adeus lupas e cachimbos, afinal, ninguém mais faz questão de passar despercebido...


 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de agosto de 2013)

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