Costela. Costela e picanha. A
costela, sempre bem passada, obviamente. Já a picanha pode vir ao ponto, ou bem
passada, ou mal passada mesmo, que aceito de qualquer jeito, sempre com uma
tirinha de gordura, que é para esfregar na farinha e proporcionar aquele sabor
inigualável na boca. Para mim, esses dois cortes são os que justificam minhas
idas frequentes a churrascarias, nas quais dou vazão ao instinto carnívoro que
compõe a essência de meu ser e que me perdoem os vegetarianos porque agora é
tarde e já não mudo mais, lamento (lamento?).
O fato é que, sempre que tomo
lugar à mesa em uma churrascaria dessas de espeto corrido, de imediato identifico
os garçons que prioritariamente desfilam pelo salão portando os espetos
revestidos por costelas e picanhas e neles sintonizo meu
radar-especial-de-monitorar-a-presença-de-garçons e fico ali, garfo numa mão,
faca de serrinha na outra, sempre à espreita, semelhante à postura que meus
ancestrais cro-magnons adotavam nas esquinas de suas cavernas à espera da
passagem de algum tigre-dente-de-sabre mais boca aberta.
Passa o garçom com a costela e eu plau, sim,
quero! Passa o outro com a picanha e eu puxo-o pelo avental: “aqui, aqui”. E
assim vou indo, almoço dominical adentro, ignorando premeditadamente os
rabanetes, chuchus e cenouras que ornamentam o buffet de saladas disponível ali
ao lado. E lá vou eu, adiante: costela, sim; salsichão, não, obrigado; picanha,
sim; galeto, passo; costela, uhum; coraçãozinho, nã, nã, nã; abacaxi, o quê???
Mas em meio ao ritual carnívoro
abate-se sobre mim sempre uma pena imensa dos garçons portadores dos espetos
que refugo. O da ovelha, o do cupim, o do filé ao alho e óleo... Fica me
parecendo que ninguém aceita aquilo que eles oferecem com tanta generosidade. A
ovelha vem de lá de dentro tinindo no espeto, o garçom para na primeira mesa e
todos recusam; na segunda, ninguém quer; na outra, sequer respondem... e lá vem
ele, direto para o meu lado, logo eu, que espero mais picanha e costela, terei
também de dizer “não”. A vida é feita de escolhas e de recusas. Estóicos,
centrados e resolvidos, os garçons da ovelha e do cupim devem saber disso como
ninguém. Admiro-os de boca cheia...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de agosto de 2013)
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