O norte-americano Erik Norrie é
um cidadão, no mínimo, singular. É difícil encontrar um adjetivo que melhor
classifique aquilo que ele é. Poder-se-ia dizer que Erik Norrie possui superpoderes
como o Hulk e tem o corpo fechado, pois nada o atinge. Ou isso, ou é odiado
pela natureza, uma vez que, ao longo de seus 40 anos de idade, vem colecionando
uma série de episódios bizarros nos quais foi vítima de acidentes terríveis que
teriam despachado qualquer outro direto para o além. A morte ronda Erik Norrie,
desfere golpes certeiros contra ele, mas não consegue enredá-lo. Por que será?
Vejamos. Sua mais recente
peripécia mortal foi ter escapado vivo de um ataque de tubarão nas Bahamas,
onde estava pescando com um arpão. Norrie conseguiu nadar para longe do faminto
peixe que aperitivava sua perna, pediu socorro em terra e virou notícia, quando
então relatou que não era a primeira vez que escapava da morte.
A primeira mesmo foi aos dez
anos de idade, quando andava à toa na vida na Flórida, em meio a uma
tempestade, e foi atingido por um raio que o lançou longe. Sobreviveu, como já
sabemos, para, três anos mais tarde, ser picado por uma cobra, o que quase
acarretou a perda de sua perna direita. Depois disso, já adulto, foi atacado
duas vezes por macacos. Uma delas em Honduras, quando sua esposa, “por
brincadeira”, conforme relata (aí tem), trancou-o na jaula de uma fêmea, que
avançou contra ele. Por fim, passava férias na Amazônia, no Brasil, quando um
macaco tupiniquim deu-lhe um soco na cabeça.
Foi só aí que passei a desconfiar
do Erik Norrie. Ora, existe algo mais repleto de clichê preconceituoso e
desinformado do que um norte-americano imaginar que ao vir para o Brasil correrá
risco de vida porque será inevitavelmente atacado por macacos? Vai mentir para
outro, Erik Norrie. Nós, brasileiros, somos muito mais competentes em colocar
vidas em risco do que atiçando macacos contra turistas. Venha se internar em
nossos serviços públicos de saúde, Erik Norrie. Venha dirigir em nossas
estradas. Venha se colocar na mira dos assaltos com morte promovidos pela
cadeia do tráfico e do vício. Venha beber leite adulterado com produtos
cancerígenos. Quero ver o senhor enfrentar o cotidiano de um brasileiro por um
ano inteirinho e aí, sim, sair ileso. Para nós, boca de tubarão e raio na
cabeça são fichinhas...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de agosto de 2013)
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