Ao contrário do que eu
imaginava, começou pela minha cabeça. Sempre pensei que se começasse pelos pés,
mas enfim, o estreante era eu, a profissional era ela, não me cabia discutir.
Fechei os olhos e relaxei o corpo todo. A sala era climatizada, uma penumbra
auxiliava a conferir uma aura de tranquilidade ao ambiente no qual restávamos
apenas nós dois, eu completamente nu, apenas um fino lençol branco a me cobrir
o corpo todo, no qual ia detectando as sensações, todas elas novas e
surpreendentes.
Primeiro, foi o couro cabeludo,
as têmporas, as orelhas. Seguiram-se as pálpebras, os músculos da face, o
nariz, os lábios, até mesmo o queixo. Continuou pelo pescoço e pelo pomo de
adão, quando então me senti de fato começar a relaxar, a perder a rigidez dos
músculos todos, a ficar mais à vontade naquela situação, os olhos ainda
cerrados, entregue ao comando experiente de quem parecia saber o que estava
fazendo. Os ombros e os braços foram focados simultaneamente, e também o peito
teve a sua vez, baixando para os cotovelos, a base das costelas, a barriga, o
umbigo.
Tudo era feito com uma dose
certa e equilibrada de calma, precisão e técnica, que revelava anos de
conhecimento e prática empenhados ali naquele procedimento ao qual eu destinava
a atenção total dos meus sentidos, de toda a minha capacidade de percepção,
apesar do relaxamento e da tranquilidade que advinha da situação. E assim
chegou a vez dos pulsos, das mãos (os braços estendidos ao longo do corpo)
praticamente no mesmo instante em que o foco pairou na pélvis, no sexo, nas
coxas, seguindo em direção aos joelhos e
às pernas.
“Está chegando ao fim”, imaginei
eu, ao detectar os esforços todos direcionados, agora sim, aos meus tornozelos,
aos calcanhares, pés e dedos. Desde o início até o final, o procedimento não
demorou mais do que quinze minutos, o que me surpreendeu, pois imaginava que
levaria bem mais tempo do que isso.
“Pode se levantar e se vestir”,
disse-me a doutora, enquanto desligava o aparelho de tomografia computadorizada
com seu feixe de luz e eu me erguia meio mole da maca em que há pouco vivenciara
aquela nova experiência que, de alguma maneira ainda obscura, eu sabia que haveria
de se transformar em crônica.
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