Que bonito que é quando você
está em Paris circulando de táxi ou de carro alugado e de repente, lá na
frente, vem se aproximando na paisagem a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo ou a
Notre Dame. Mesma sensação de aproximação paulatina com o belo se dá em Buenos
Aires em relação ao Obelisco fincado no meio da Avenida 9 de Julio. Coisa igual
ocorre em diversas outras partes do mundo nas quais os belos cartões postais
exibem-se majestosos aos olhares dos visitantes e mesmo dos habitantes, aos
quais não negam as delícias visuais de suas formosuras nem aos transeuntes
pedestres e tampouco aos motorizados.
Mas não em Caxias do Sul.
Desde que resido aqui (são 22
anos de habitança), incomoda-me o sentido do trânsito de veículos nas ruas Os
18 do Forte e Sinimbu, justamente por obrigarem a nós, motoristas, trafegarmos
eternamente de costas ao visual arquitetônico de duas de nossas mais belas
igrejas, respectivamente, a de Nossa Senhora de Lourdes e a de São Pelegrino.
Sempre que circulo a pé por essas duas artérias vitais da cidade, divido minhas
atenções entre os desníveis das calçadas e o admirar da paisagem que vai se
embelezando com o aproximar dessas duas construções, cujas estéticas me
encantam. São igrejas bonitas e mereceriam ocupar um destaque maior nos
estímulos visuais a que somos submetidos durante os trajetos que nossas tarefas
diárias impõem.
Especialmente nesses dias em que
os engarrafamentos não têm mais hora específica para ocorrer, quando o trânsito
lento dá a tônica do ritmo de nossos deslocamentos motorizados, imagino o
bálsamo que seria ir se aproximando dos bairros Lourdes e São Pelegrino tendo
no horizonte do para-brisas a visão desses dois templos de apelo turístico e de
fé. Creio que esses cenários poderiam auxiliar como gatilhos para suscitar
reflexões em nossos espíritos, desarmar nossa irritação e ansiedade cotidianas,
aplacar os pensamentos, amansar momentos de nossas existências, trazer um dedo
de poesia para dentro do carro, do ônibus, da van, do caminhão, da motocicleta.
Humanizar-nos.
Não estou levantando a bandeira da
inversão do sentido do trânsito em nosso centro. “Só me faltava essa”, vai
pensar o Alceu. Sugiro apenas ao motorista aproveitar o sinal que fecha para
dar uma espiadinha pelo espelho retrovisor. Às vezes, o que ficou para trás tem
muito a oferecer.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de agosto de 2013)
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