A realidade, às vezes, se
desbarranca em nosso colo de maneira agressiva, como que para nos chacoalhar,
fazer acordar, enxergar direito as coisas à nossa frente que, normalmente,
parece que evitamos perceber ou aceitar. São os chamados choques de percepção,
ou insights, como gostam de dizer os psicólogos. Eu já vou mais no raso e digo
“soco no estômago”, mesmo.
Pois tive um clarão assim noite
dessas, enquanto participava de um evento cultural realizado no anfiteatro da
Câmara de Vereadores. A palestrante convidada para aquela data, professora
renomada na cidade, ao iniciar sua fala, emendou um esclarecimento aos
organizadores que lhe haviam feito o convite. Pediu desculpas por não ter
acatado a sugestão de mobilizar seus alunos de ensino médio para comparecerem
ao evento e explicou as razões, resumidas em dois tópicos: trânsito e
segurança.
Lúcida e previdente, a
palestrante julgou arriscado mobilizar pais e alunos para o evento, levando-se
em conta que, para tanto, obrigaria as famílias a, primeiro, enfrentarem o
estresse e a imprudência vigentes em nosso trânsito urbano especialmente no
período do final da tarde e início da noite. Depois, avaliou a questão da
segurança, ou melhor, da falta dela, ou mais explicitamente, da violência mesmo
à qual estamos expostos à noite, na hora do encerramento da atividade. Quem se
sente seguro? Melhor, portanto, poupar os alunos e suas famílias de terem de se
submeter a esses riscos.
Refleti, ponderei, concordei e
me preocupei. De fato, quantas vezes eu mesmo não tenho optado por recusar
convites para eventos, ou evitado planejar idas a restaurantes, shows, atrações
diversas, visitas e passeios, levando em conta exatamente esses dois fatores
que têm tornado quase impeditiva a vida tranquila em sociedade hoje, o trânsito
e a insegurança? Dirigir virou um caos. Encontrar vaga para estacionar, uma
gincana. Agregam-se a isso os riscos de ser assaltado nas sinaleiras, ter o
veículo roubado, enfrentar um revólver empunhado contra você e os seus por um
assaltante visivelmente alterado.
Ficar em casa passa a ser, na
maioria das vezes, a programação mais recomendável. E nem mesmo encastelados
estamos cem por cento seguros. No entanto, por imposição legal, seguimos sendo
obrigados a sazonalmente votar naqueles que ganham suas vidas prometendo
melhorar uma situação que só piora a olhos vistos. Valeu, professora. Caiu a
ficha.
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