“De onde você menos espera, dali
é que não sai nada mesmo”. A brilhante frase é de autoria de Apparício Torelly
(1895 a 1971), o “Barão de Itararé”, jornalista criador do suplemento “A
Manha”, que entrou para a história do jornalismo humorístico e crítico no
Brasil por suas máximas repletas de humor, ironia e finas alfinetadas. O dito
dele, com que abro a crônica de hoje, escrito há mais de meio século, ao invés
de caducar com a passagem do tempo, me parece ter sua validade revigorada a
cada dia que passa. Basta que olhemos à nossa volta.
Nosso entorno hoje é basicamente
composto pelo sucesso das nulidades. A incompetência, o despreparo, o
descomprometimento, o arrivismo, o jeitinho, a preguiça, a falta de zelo, a
burrice, a mediocridade, o compadrio, a malandragem tomam conta de todos os
setores da sociedade e vão moldando o perfil desse nosso país que, imaginam ainda
alguns, é o “do futuro” e o “que vai para a frente”. Quem corre para o
precipício também está indo para a frente e o futuro da mediocridade é a
reprodução, a manutenção e o aprofundamento da própria mediocridade. Sob esse
viés, concordo que sejamos o “país do futuro” (porém, dos néscios) e um “país
que vai para a frente” (rumo às profundezas do abismo humano).
Passar o abacaxi adiante é o
lema instaurado na cultura nacional e não me venham dizer que estou falando
novidade aqui. “Não é comigo”, “não fui eu”, “não dá para fazer”, “a culpa não
é minha” são as frases que escutamos a torto e a direito de quem tem uma tarefa
a cumprir, mas se exime das consequências de sua falta de responsabilidade.
“Minha parte eu fiz”, é o que nos dizem aqueles que obviamente não chegaram nem
perto de sequer começar a fazer a parte que lhes cabia. Mas é assim que somos,
nós, brasileirinhos, que precisamos que criem leis para multar quem joga lixo
nas calçadas, coisa que no Japão não se faz não porque existam leis para isso (e
elas não existem), mas porque cada cidadão lá habita um nível civilizatório
inimaginável para a brucutança humana que se reproduz por estas nossas
vergonhosas plagas.
O baile da mediocridade não tem
hora para acabar, meus amigos. Trata-se de uma festa em que eternamente cabe
mais um e a turma não para de chegar. De minha parte, só me resta fechar a
porta, colocar tampões nos ouvidos e abrir um livro. Divirtam-se.
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