Comentei aqui ontem sobre os
esforços bem-intencionados de meus pais, na década de 1970, quando eu era
criança, para me proporcionar entretenimento saudável no verão, inscrevendo-me
compulsoriamente no programa de colônia de férias oferecido pela milicada do
Quartel em minha cidade natal, Ijuí. A julgar pelo tom do texto e pelas
entrelinhas, os leitores puderam perceber, sem maiores esforços, que minha
relação com aquele tipo de atividade ao ar livre, sob o comando de trombetas e
de ordem unida, não era das mais harmoniosas.
Recebi diversos e-mails de
leitores e leitoras se solidarizando com meu relato, eles próprios revelando
terem também vivenciado experiências similares em suas infâncias (o que, de
passagem, denunciava também suas idades). Só tem uma coisa que aconteceu
comigo, e que eu não contei ontem, que supera as eventuais más experiências que
qualquer um tenha tido com as tais colônias de férias dos anos 1970 realizadas
em quartéis.
Foi logo na chegada, no primeiro
dia. As Kombis verde-oliva que arrebanhavam a gurizada pela cidade foram
despejando meninos e meninas pelo pátio do Quartel, de manhã bem cedinho, e lá
saltei eu, oito ou nove anos de idade, cabelinho bem branquinho e cheinho,
chapéu de palha na cabeça, calção, tênis e a mochilinha.
Ao saltar, recebi de imediato
uma ordem (a primeira delas): “Você, vai para lá!”. Sendo que “lá”, conforme
indicava a direção do dedo apontado do milico, significava uma formação
organizada de umas dez filas de... meninas! Habituado a obedecer ordens desde
cedo, não titubeei e dirigi-me para “lá”, onde uma professorinha me inseriu no
grupo, eu de mãos dadas com as demais menininhas. Nem me passou pela cabeça que
milico e professora haviam me confundido com uma menina. Fiquei lá, parado,
quieto, escutando os risos dos meninos nas fileiras de trás, até que as meninas
a meu lado chamaram a professorinha dizendo: “Tia, tia, ele não é menina, ele é
menino”.
A mulher veio, me olhou
atentamente, convenceu-se do fato e me realocou de fila, junto aos meninos que
iniciavam sua colônia de férias rindo à larga... às custas de meu vermelhidão
nas faces, esse que me acompanha até hoje mesmo que não tenha passado nem perto
de um copo de vinho. Foi bullying não intencional. Depois, tornei-me um
perigoso serial killer, mas acho que isso já pode ser fruto de minha
imaginação...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de fevereiro de 2014)
Um comentário:
Devia ser um menininho superbonitinho! :)
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