Aqui em casa funciona assim:
minha esposa é a olheira e eu sou o executor. Hein? De que raios estou falando?
Calma, acompanhe que tudo em breve clareia, igualzinho à neblina matinal que,
como um véu, encobre o mundo a partir de nossas janelas e, pouco a pouco, ao
ritmo do nascer do sol, vai se dissipando e revelando as cores do mundo
(exceto, claro, nos dias em que chove cântaros e oceanos da alvorada ao
crepúsculo, como estamos habituados a ver por essas bandas). Mas eu dizia
mesmo...? Ah, sim, de como são as coisas aqui em casa: ela, a olheira; eu, o
executor. No próximo parágrafo...
Estou a falar de comida, que é
assunto de alto interesse universal, conforme já detectei por meio de pesquisas
de popularidade aplicadas aos temas recorrentes aos quais recorro com
frequência aqui nessas mal digitadas. Comida! Falemos de comida, que sempre
rende. Ocorre que a senhora minha esposa é vidrada nesses programas de
televisão estilo reality shows culinários, nos quais um bando de trapalhões de
avental se mete a esbarrar em panelas e caçarolas para serem xingados frente às
câmeras por uma equipe de jurados formada por chefs ditos renomados cujas falas
requerem legendas, já que, no Brasil, para ser renomado, precisa vir de fora.
Não tenho paciência para assistir aos episódios e o combinado é que ela me
chama para perto da tevê somente na hora da apresentação final dos pratos. Se
eu gosto do que vejo, no dia seguinte, vou às panelas em casa, para tentar
reproduzir o menu. Sozinho e sem xingamentos (ao menos, durante o processo de preparo).
Mas descobri uma coisa, nesse
procedimento todo: em se tratando de testes culinários, ri melhor quem vem por
terceiro. Explico. A primeira experiência é vivenciada somente a dois: minha
senhora e eu. Aprovado o prato, ousamos convidar algum casal de amigos ou de
parentes (de preferência primeiro os parentes, que mais dificilmente nos
deserdarão em ocorrendo alguma catástrofe) para exibir o novo prato recém-inserido
no cardápio oficial da casa. Mas normalmente erros ainda acontecem nessa fase.
Felizes mesmo acabam sendo os comensais da terceira leva, quando, via de regra,
o Salmão a Wellington, por exemplo, sai dourado, crocante e bem assadinho, como
deveria ter sido desde a primeira vez.
Aqui em casa, vale a pena chegar
em terceiro. Informe-se a respeito do pódio sempre que receber daqui um convite
para o jantar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de setembro de 2015)
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